“E Jesus continuou dizendo: ‘O Reino de Deus é como um homem que espalha a semente na terra. Depois ele dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontece. A terra produz fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, por fim, os grãos enchem a espiga. Quando as espigas estão maduras, o homem corta com a foice, porque o tempo da colheita chegou’” (Mc 4,26-29).
Nada acontece por acaso ou de repente. Tudo requer tempo, espaço, sujeitos, recursos, meios e paciência histórica, embora, nem tudo esteja previsto em nossos cálculos matemáticos e, nem tão pouco, limitado à nossa pequena medida.
Tudo se desenvolve dentro de um processo.
O Reino de Deus, como a semente lançada na terra, é envolvido por um misterioso crescimento, dia e noite, sem muitas explicações, até chegar aos frutos maduros e à colheita abundante.
Vida em missão é como semente lançada na terra: entra no mistério do crescimento, do fruto maduro e da colheita. Mas é bom enfatizar que, não é a vida de um lado e, a missão de outro, mas, vida em missão; juntas e misturadas.
A vida foi concebida para ser missão e a missão para ser vida. Separadas, elas não são sementes, não são lançadas, não brotam, não crescem, não frutificam e não viram colheita. Eis, portanto, o alerta que nos faz o Senhor: “Eu garanto a vocês: se o grão de trigo não cai na terra e não morre, fica sozinho. Mas se morre, produz muito fruto. Quem tem apego à sua vida, vai perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna. Se alguém quer servir a mim, que me siga. E onde eu estiver, aí também estará o meu servo. Se alguém serve a mim, o Pai o honrará” (Jo 12,24-26).
Mas, afinal de contas, que outro sentido e valor teria a nossa vida? De que maneira seria tão preciosa? Como encontraria tantas razões? Onde seria revestida com tanta beleza?
Paulo tem algumas convicções sobre o valor e o sentido da vida em missão que, resultaram da vivência e aprofundamento, pessoal, no mistério do Cristo morto e ressuscitado. São iluminações que nos ajudam, também, a responder sim, com convicção:
Considerar o Cristo como o centro e a razão de tudo: “Por causa de Cristo, porém, tudo o que eu considerava como lucro, agora considero como perda. Quero, assim, conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição…” (Fl 3,7-12).
Receber, da graça de Deus, a força na fraqueza: “Ele, porém, me respondeu: ‘Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder.’ Portanto, com muito gosto, prefiro gabar-me de minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim.” (2 Cor 12,9-10).
Sustentar, com o testemunho, o serviço confiado por Cristo: “Mas, de modo nenhum considero minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e o serviço que recebi do Senhor Jesus, ou seja, testemunhar o Evangelho da graça de Deus” (At 20,24).
As respostas de Paulo e de tantos homens e mulheres, na história da fé, nos permitem entender que não se trata de qualquer vida e de qualquer missão mas, a vida em missão a partir do Mistério de Cristo, de sua própria vida em missão. Sendo assim, compreendendo a nossa própria existência no mundo, como ‘um viver em missão’, daremos sentido novo a tudo o que somos e fazemos, sonhamos e queremos, e projetamos e realizamos; terá razão e sentido o passado, o presente e o futuro; ganhará mais sentido a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, a vida e a morte…
Viveremos em missão.
E, o primeiro campo missionário de nossa ação e serviço não será o dos outros; não será o das terras longínquas; não será o das terras estrangeiras… será, sim, a nossa própria vida: nosso coração e nossa história. Trabalharemos no campo dos outros sim, mas, o primeiro campo que deveremos trabalhar é o nosso próprio: cuidar da terra e cuidar da semente.
O Anúncio do Evangelho é regado pelo testemunho pessoal de conversão: de mudança diária dos hábitos e costumes, dos critérios e das práticas, da visão e da mentalidade. Uma evangelização sem o testemunho pessoal é um teatro de mau gosto.
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos
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