UMA CARTA… UM TESTEMUNHO!

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A escolha de um caminho determina sempre as condições dos passos. Não se anda devagar numa pista de corrida; não se corre no meio de uma multidão; não se detém numa estrada movimentada; sobre pedras e espinhos não se anda descalço.

Quais caminhos frequentamos? O que precisamos para continuar seguindo, parar, voltar ou abandoná-lo?

Muitas vezes, o testemunho de alguém pode ser o que esteja faltando para que, motivados, possamos acordar das fantasias e ilusões nas quais nos atolamos quando pensávamos ser os “donos” da vida, os “experientes” e, os “intocáveis”. As vezes, antes que tudo desabe, é melhor ouvir alguém; nem que seja uma carta de um desconhecido.

Receba esta carta como se fosse endereçada para você!

Carteiro!!!

O Abismo! “Mais de uma vez pensei alcançar a margem; todas as vezes recaí. No meu braço direito uma seringa foi tatuada. Meu espírito ficou marcado. Quantos anos se passaram desde que, meu leito de barraca se formou sobre o meu braço; que fechei a porta de minha casa; desde que fumei o meu primeiro cigarro de maconha? Quatro, cinco? Não quero lembrar! Quero esquecer!

Minha prisão sou eu! “Alguns amigos tentaram ajudar-me e, depois, foram embora. Que podiam eles fazer? Não enxergo a pesada porta de minha prisão nem as barras de minha janela.

Nalgum lugar fora, na Oslo que se desperta após longo inverno, meu filho e minha mulher me esperam. Sonho! Imagens e recordações desfilam diante de meus olhos: Paris, África, o haxixe, depois, em relevo, uma seringa, Istambul, o ópio, Teerã, a heroína…”

A seringa matou o riso. “Tudo é vago, nebuloso! Uma seringa para morrer lentamente! Tenho vinte e um anos ou um século!  A seringa matou o riso.

A prisão não me modificou. Muitas vezes passei por ela, depois tornei a partir, andei de cidade em cidade, de país em país, para fugir da obsessão. Tentei, com violência, alcançar a margem sem jamais conseguir. Certo dia voltei para casa, os braços perfurados e lentamente curei-me. Faz muito tempo!”

Pela seringa reneguei a vida. “A névoa se dispersava, tornei a partir; as velhas botas nos pés à procura dos amigos da última hora. Os amigos? Não, a seringa! Reneguei os amigos. Reneguei a própria ideia do amor. Reneguei a vida. Vivi trêmulo e escondido, sem erguer a cabeça; apenas uma seringa no bolso. Dias, anos…!

Depois, o sol, delicadamente, banhou meu leito na clínica Cery.

As semanas se passaram, refiz os primeiros passos, o véu se erguia, mas alguns períodos permaneciam obscuros. Depois pude voltar para casa por algumas horas antes de tornar a partir.  Fora expulso!”

Isso não é vida! “A estrada, um caderno de poesias no bolso, um livro de Nerval, as noites em cidades estrangeiras… sem fim… Num parque de Oslo encontrei uma jovem maravilhosa com uma criança. Na véspera de nosso casamento fui novamente preso por porte ilegal de drogas estupefacientes.

Passaram-se os dias, as semanas também. Fora, esperam-me.

Duas vezes por semana ela vem me ver por dez minutos, um guarda me acompanha ao parlatório… isso não é vida!”

Vou tentar… “Ainda uma vez vou tentar, não estou só e eu lhe direi: sim! Desta vez conseguirei! Quantos anos transcorreram?

Gostaria que esta carta fosse publicada. Se pelas minhas palavras outros puderem evitar esse caminho, tudo não terá sido em vão” (Prisão de Oslo, 31 de maio de 1970).

 

Pe. Edivaldo Pereira dos Santos

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