Atitudes de soberba, arrogância e orgulho estão baseados no conceito pessoal de superioridade em tudo, o que torna cega, a pessoa, em relação à verdade sobre si mesma. Falsa modéstia é uma enganosa ausência de simplicidade e de despretensão. É um jogo para granjear os elogios e a comiseração dos outros. “A falsa modéstia”, diz Jean de la Bruyere, “é o último requinte da vaidade”.
Muitas pessoas não são verdadeiras consigo mesmas e, por isso, apelam, descaradamente, para o orgulho ou para a falsa modéstia.
Então vamos analisar algumas palavras de Jesus.
É orgulho quando Jesus diz: “aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração” ou, então, “Vocês dizem que eu sou o Mestre e o Senhor. E vocês têm razão; eu sou mesmo” (Jo 13,13)? Podemos falar em falsa modéstia, quando Jesus diz: “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8,20)?
É claro que pinçar palavras da Bíblia, tirando-as de um contexto bem maior, para defender questões pontuais, não é um bom negócio. O bom mesmo é trazer, sempre, o contexto todo. Mesmo assim, ainda que pudéssemos usar essas palavras de Jesus, desconsiderando o contexto maior, e olhando só para aquilo que ele diz, não falaríamos nem em orgulho e nem em falsa modéstia, porque, a despeito de qualquer coisa, Jesus fala a partir não só de um conhecimento (sabedoria…), mas, de um autoconhecimento. E é exatamente, ai, que está a chave. O orgulhoso ou o que usa de falsa modéstia é alguém que não conhece a si mesmo, portanto, a imagem que faz de si mesmo e a imagem que apresenta aos outros está cheia de inverdade.
A humildade é companheira da verdade e dela depende para a sua autenticação. Onde não existe a verdade sobre si mesmo, não existe a humildade.
Jesus é o humilde, por excelência. Ele não só, expressa a verdade sobre si mesmo, mas, é o caminho a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai, senão por Ele.
O HUMILDE Jesus é filho da SERVA Maria “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38) e do JUSTO José “José, seu marido, era justo” (Mt 1,19). Nesse sentido, ninguém nasce humilde, torna-se.
Num ambiente familiar de pais servidores e justos é que se aprende a humildade, crescendo em três dimensões, como Jesus: em estatura, sabedoria e graça. Por duas vezes o evangelista Lucas faz este aceno: “O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40). “E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52).
Este texto se completa com outros textos brilhantes:
“O topo da inteligência é alcançar a humildade” (Textos Judaicos). “Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se” (Gabriel Garcia Marquez). “Ser humilde com os superiores é obrigação, com os colegas é cortesia, com os inferiores é nobreza” (Benjamin Franklin). “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho” (Clarice Lispector).
“Senhor, fazei com que eu aceite minha pobreza tal como sempre foi. Que não sinta o que não tenho. Não lamente o que podia ter e se perdeu por caminhos errados e nunca mais voltou. Dai, Senhor, que minha humildade seja como a chuva desejada caindo mansa, longa noite escura numa terra sedenta e num telhado velho. Que eu possa agradecer a Vós, minha cama estreita, minhas coisinhas pobres, minha casa de chão, pedras e tábuas remontadas. E ter sempre um feixe de lenha debaixo do meu fogão de taipa, e acender, eu mesma, o fogo alegre da minha casa na manhã de um novo dia que começa.” (Cora coralina).
A morada da humildade não é a cabeça, nem os braços, nem os punhos, nem a boca, nem os olhos… A morada da humildade é o coração!
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos
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