Se alguém não sabe quem ele é, não saberá, tão pouco, tantas outras coisas fundamentais sobre si mesmo. Existe uma unidade e coerência entre o que somos e todos os nossos atos e atitudes. O que somos não só explica o nosso agir, mas o fundamenta e, ainda mais, nos revela. Fica claro, portanto, que, basicamente, tudo aquilo que somos informa, tudo aquilo que queremos, fazemos, desejamos, pensamos, cultivamos, alimentamos… Nesse sentido, toda contradição e incoerência que pesa sobre nós é fruto de uma ruptura entre o ser e o agir. Em algum ponto de nossa vida nos desalinhamos.
Olhando para Jesus vemos o protótipo da unidade e da integração pessoal. Nele não há incoerência… não há contradição… não há ruptura entre o seu ser e o seu agir. Por que? Porque Ele sabe quem ele é e, qual é a sua missão!
Nosso maior desafio é manter a nossa coerência e, portanto, a unidade. Não é fácil manter a coerência e a unidade entre o ser e o agir. Mas, é possível!
O caminho da coerência e unidade é o seguimento de Jesus
A cena do batismo de Jesus, no Jordão, é muito reveladora. “E (João) pregava: ‘Depois de mim, vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno sequer de me abaixar para desamarrar as suas sandálias. Eu batizei vocês com água, mas ele batizará vocês com o Espírito Santo.’ Nesses dias, Jesus chegou de Nazaré da Galiléia, e foi batizado por João no rio Jordão. Logo que Jesus saiu da água, viu o céu se rasgando, e o Espírito, como pomba, desceu sobre ele. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado; em ti encontro o meu agrado’.” (Marcos 1,7-11).
A liturgia da Igreja traz, para o altar e para o coração, a meditação sobre o batismo de Jesus, como uma solenidade. É a primeira solenidade do Senhor, no tempo comum.
O padre Carlos Alberto Contieri, sobre este Evangelho diz, nos seus comentários: “O gênero literário do relato é a ‘visão interpretativa’, em que a voz interpreta a visão, isto é, o céu aberto e a descida do Espírito Santo sobre Jesus.
A finalidade do relato é afirmar, desde o início do evangelho, a identidade e a missão de Jesus.
O batismo de João é um batismo para a conversão. O Batista tinha consciência do caráter provisório e imperfeito do batismo que ele realizava, por isso, afirma que, depois dele, vem um mais forte do que ele e que batizará com o Espírito Santo. Jesus não tinha pecado, mas entra na fila dos pecadores por solidariedade com a nossa humanidade pecadora. O autor da carta aos Hebreus poderá dizer, por isso, que nós temos, junto de Deus, um sumo sacerdote misericordioso, capaz de compadecer-se de nossas fraquezas (cf. Hb 4,14-15).
O céu se rasga! O céu pode rasgar-se? Trata-se de uma evocação de Is 63,19 ou 64,1. Trata-se, evidentemente, de uma linguagem simbólica na qual é expressa a comunicação entre o céu e a terra. Dito em outros termos, o Espírito Santo do qual Jesus é revestido para realizar a sua missão vem de Deus. A voz que interpreta a visão vem do texto tirado de Is 42,1. É Deus quem apresenta o seu servo. No evangelho de João, Jesus diz que é o Pai quem dá testemunho dele (cf. Jo 8,17-18). Em Is 42,6-7, a missão do servo tem uma dupla vertente: é mediador da Aliança e libertador dos cativos. Na tradição bíblica, essas duas vertentes estão intrinsecamente unidas: Deus que fez aliança com o seu povo é o Deus que o libertou da casa da servidão (cf. Ex 20,1; Dt 5,6). Jesus é mediador de uma nova e definitiva aliança (cf. Hb 7,22-25; 8,6-13; 12,24) que nos liberta de todo mal.”
Ora, o batismo de Jesus nos permite enxergar o nosso próprio batismo numa outra perspectiva: a do discipulado; pois, somos o que somos por (com e em) Cristo!
O batismo é a forma sacramental (experiência de fé) de viver com coerência porque na base da união entre ser e agir está a união entre o nosso ser humano e divino.
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos