Sexta-feira da Paixão

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A Sexta-feira Santa, ou da Paixão, é o dia mais celebrado na devoção popular. Via-sacra encenada, procissão do Senhor morto, procissão do encontro e até a folclórica malhação do Judas mobilizam o sentimento, a devoção e a fé das pessoas. A Igreja se reveste de um silêncio reverente diante da paixão do Senhor.

As primeiras comunidades cristãs, ao comunicarem o Evangelho, evitavam dizer que Jesus havia sido crucificado. Era loucura e escândalo crer em um traidor que fora condenado ao suplício da cruz.

Entre as inúmeras torturas usadas no Império Romano, a cruz era a mais infame, humilhante e terrível. Só os escravos réus de crimes hediondos recebiam essa odiosa pena. Pode-se, portanto, perguntar: por que Deus permitiu que Jesus, o mais inocente e santo dos seres humanos, morresse na cruz?

A justiça de Deus manifesta-se na morte de Jesus

O apóstolo Paulo responde à pergunta, que atormentava os primeiros cristãos. Diz, na Carta aos Filipenses, que Jesus esvaziou-se da condição divina e tomou a forma de escravo, humilhado e rejeitado, para ser igual a nós. Assumiu não só a condição humana, mas também a situação mais dolorosa e humilhante que pudesse existir.

No mundo, pessoas inocentes e indefesas sofrem as mais hediondas barbáries e são submetidas a suplícios indescritíveis. Deus seria injusto se não tivesse experimentado pessoalmente esse terror. Se Jesus não tivesse sofrido o suplício da cruz, estariam com a razão os que apregoam que Deus não se preocupa com o sofrimento dos inocentes. Jesus experimentou a máxima dor possível, a mais terrível humilhação e vergonha, o mais completo abandono, por isso pode ser chamado de Irmão Primogênito, capaz de socorrer-nos na fraqueza. Se ele fosse isento do sofrimento, os seres humanos que sofrem seriam mais fortes e dignos de honra do que Ele.

Além disso, Jesus abaixou-se para levantar e resgatar o ser humano caído, humilhado e desprezado. Nas ruas de nossas cidades, muitas pessoas vivem no chão. Já não têm força interior para ficar em pé, trazem o rosto, as mãos e as roupas repletas de sujeira e sua aparência é mais repugnante do que a de qualquer animal. Pessoas famintas param nas portas dos restaurantes, com olhos fixos nos pratos de quem está à mesa e são expulsas sem receber nada.

A maioria das pessoas anônimas, que vivem nas ruas como se fossem invisíveis, não têm coragem sequer de levantar os olhos e olhar para quem passa. Despojadas da dignidade humana, sentem vergonha de viver. Jesus chegou até a humilhação dessas pessoas. Experimentou o que elas vivem. Não só renunciou à condição divina, como esvaziou-se da dignidade humana. Com a paixão e morte na cruz, colocou-se abaixo das pessoas excluídas da dignidade, para levantá-las, em seu amor.

O esvaziamento de Jesus o fez assumir uma morte que não é do ser humano, e sim de animal. Na noite em que ia ser entregue, Ele ofereceu seu corpo e sangue como alimento e bebida. Quem morre para dar carne como alimento não é o ser humano. É o animal. Jesus foi imolado como cordeiro manso, levado ao matadouro.

Durante a paixão e agonia na cruz, Jesus experimentou a fome, a sede, a nudez, a solidão, a prisão e a enfermidade. Por isso é preciso, para entrar no discipulado, servir os irmãos que vivem crucificados. É seu discípulo quem um dia ouvirá a sua voz confirmando: “Foi a mim que o fizeste” (Mt 25,40).

Nossa vida inteira é uma contínua paixão junto com Jesus, porque sempre temos um sofrimento, uma preocupação, um cuidado, uma tristeza, e, em geral, sofremos por causa dos outros, porque vemos o sofrimento daquele a quem amamos. A chave de tudo é o amor. Quem ama esquece de si e vive para o bem dos outros. Paulo diz, em relação a Jesus: “Ele me amou e se entregou a mim” (Gl 2,20).

Jesus, manso e humilde de coração; fazei o nosso coração semelhante ao vosso!

Por:  Pe. Edivaldo Pereira dos Santos

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