Sermão proferido por Dom Edilson Nobre no dia do Bom Jesus dos Passos

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“NOS PASSOS DO BOM JESUS: FRATERNIDADE, DIÁLOGO E AMOR”

A cerimônia que ora realizamos nos convida a contemplar Deus; nos convida a fixar o olhar sobre o Senhor onipotente, onipresente e onisciente, que assume a fisionomia humana e vem ao nosso encontro para assegurar-nos a salvação. Ele assume a condição de um homem flagelado, escarnecido, humilhado e condenado; tratado como se fosse um impostor ou marginal de alta periculosidade.

No entanto, aqui estamos nós, como alguns dos discípulos de Jesus, buscando mergulhar neste mistério, procurando compreender sempre mais e viver a fidelidade no seguimento ao nosso Salvador.

Faz-se necessário aprofundar, conhecer e abraçar o mistério da CRUZ, o mistério da PAIXÃO que conduz à RESSURREIÇÃO. Só assim seremos capazes de seguir a mesma estrada, o caminho, os PASSOS DE JESUS. Não são palavras improfícuas aquelas ditas por Nosso Senhor, quando Ele soube que alguns gregos queriam se aproximar dele, conforme narra o Evangelho de São João. Disseram eles para Filipe: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus” (Jo 12,21). O que respondeu Jesus para estes? “Ah, que bom! Que ótimo! Venham, que eu vou lhes preparar um churrasco para nos conhecermos”? Não! Não foi assim! O banquete oferecido por Jesus será fruto de um processo que nos pede abnegação, paciência, amor, fidelidade, entrega. Portanto, a festa haverá, mas vão participar os que estiverem dispostos a passar pela porta é estreita. Jesus nos ensina que devemos ser como a semente que cai na terra, morre e gera vida. Eis, o que falou o nosso Salvador: “Chegou a hora em que o filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade eu vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então dará muito fruto” (Jo 12,23-24). Pensemos nisso: a glorificação do Filho de Deus se dá por causa de sua entrega. Jesus é o grão de trigo que cai na terra, sofre, morre e gera vida. Também nós somos pequeninos grãos, lançados neste mundo para nos consumir e gerar vida, gerar alegria, gerar esperança.

O caminho do Calvário proporciona dor e sofrimento, é verdade! Mesmo assim, aqui estamos, porque temos a convicção de que Jesus não nos leva para o abismo. Jesus Cristo é para nós a certeza da vitória. Assim sendo, sigamos os passos de Jesus.

“NOS PASSOS DO BOM JESUS: FRATERNIDADE, DIÁLOGO E AMOR” – É o tema escolhido para este ano de 2021. Ano marcado pela pandemia, pelo medo e por incertezas. Três palavras que vêm ao nosso encontro para nos confortar. Três palavras que se complementam, que alargam os nossos horizontes e renovam nossas esperanças: Fraternidade, Diálogo e Amor.

A Fraternidade é fruto de uma experiência mística que nos provoca a sairmos do nosso mundo egocêntrico para nos abrirmos ao próximo, sobretudo ao que se encontra mais sofrido, em situação de vulnerabilidade. Eis porquê a Campanha da Fraternidade dentro do contexto da Quaresma. Uma espiritualidade madura leva-nos a uma maior sensibilidade em relação à necessidade do próximo. No Domingo de Ramos, dia 28,  nós cristãos católicos realizaremos o nosso Gesto Concreto. Será o dia de enviarmos a nossa generosa contribuição, que este ano vai beneficiar as vítimas mais afetadas pela fome em consequência desta pandemia da covid-19. Isto é Fraternidade. Ver o próximo, seja qual for a condição em que se encontre, como nosso irmão, como nossa irmã. É ver, sentir compaixão e cuidar.

O Diálogo é um sinal extraordinário da presença de Deus. O diálogo é fruto da maturidade que se dá na relação entre as pessoas, seja na família, entre as igrejas e  em todos os segmentos da sociedade. A este propósito o Papa Francisco nos interpela na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 238: “A evangelização implica também um caminho de diálogo. Neste momento existe sobretudo três campos de diálogo onde a Igreja deve estar presente, cumprindo um serviço a favor do pleno desenvolvimento do ser humano e procurando o bem comum: o diálogo com os Estados, com a sociedade – que inclui o diálogo com as culturas e as ciências – e com os outros crentes que não fazem parte da Igreja Católica. Em todos os casos a Igreja fala a partir da luz que a fé lhe dá, oferece a sua experiência de dois mil anos e conserva sempre na memória as vidas e sofrimentos dos seres humanos”. Dentro desta perspectiva compreendemos melhor a oração sacerdotal rezada por Jesus: “Que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em Ti ” (Jo 17,21s). Lembremo-nos: A experiência do diálogo começa dentro de casa. Sua família dialoga?

“O Amor é uma emoção ou sentimento que leva uma pessoa a desejar o bem a outra pessoa”. A essência do ser cristão é a vivência do amor. Quando o escriba pergunta a Jesus qual é o primeiro de todos os mandamentos, Ele responde: “Amarás o senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro. E o segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior que estes” (Mc 12, 30-31).

São Paulo nos indica características bem precisas de quem experimenta o verdadeiro amor: “O amor é magnânimo, benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso, nem arrogante; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Cor 13,4-7).

Fixemos o olhar sobre o Bom Jesus dos Passos e sobre a Virgem Dolorosa! Que sentimentos nos envolvem ao contemplar estas imagens? De um lado, Jesus carregando a sua cruz. Do outro lado, a Virgem das Dores, aos pés do filho, procurando ser conforto para ele com a sua presença materna! São necessárias palavras? Que lições podemos tirar para a nossa vida? O que nos ensina Jesus? A quem nos remete a Virgem Dolorosa? É possível fazer um paralelo entre a representação do cenário do Calvário no passado e o cenário de hoje no presente em que se encontram irmãos e irmãs nossos que sofrem e vivem o suplício da vida por causa de tantos sofrimentos em consequência da pandemia, do desemprego, da fome, da violência, da guerra e das injustiças sociais? Quantos irmãos e irmãs estão depressivos precisando de nossa ajuda? Que papel exercemos neste cenário? É possível mudar? Resta-nos alguma esperança? É possível ser luz neste mundo de trevas?

A vós eu venho Bom Jesus / Buscar conforto à minha dor

A dor que mais meu peito sente / É ter-vos eu tão pouco amor

 

Dom Edilson Soares Nobre

Bispo Diocesano de Oeiras

 

Foto: Cláudio Fernandes e Fran

 

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