Oeiras, 22 de março de 2024.
Minha saudação especial ao meu irmão Dom Edilson, Bispo desta linda e querida Diocese de Oeiras, e na sua pessoa minha saudação especial aos padres, diáconos e religiosos (as) e a todo povo de Deus.
Cumprimento o prefeito José Raimundo, e na sua pessoa, saúdo as autoridades civis presentes nesta praça e neste ato de fé e devoção,
Nosso tema: COM O BOM JESUS VIVAMOS A FRATERNIDADE E A AMIZADE SOCIAL. “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23, 8).
Nossa caminhada, seguindo os passos do Senhor Bom Jesus, nos ajude e nos fortaleça a abrir ao amor e a fraternidade humana e que nos inspire sempre mais à conversão e valor. Olhando para o Bom Jesus dos passos contemplemos um “amor que supera todas as barreiras” (Fratelli Tutti, n. 1)).
O encontro de Maria e de Jesus. Momento especial porque Maria se faz a serva do Senhor, momento especial porque Jesus encontra conforto com sua mãe. Conforto esse, é verdade, que não alivia sua dor por completo, mas lhe dá forças para prosseguir sua caminhada dolorosa até o Calvário.
Jesus, quando é pregado na cruz, e vê sua mãe e o discípulo João, pronuncia uma frase messiânica: “Mulher, eis aí o teu filho, Filho, eis aí tua mãe” (cf. Jo 19, 26-27). Hoje, eu, servo indigno do Senhor, tomo suas palavras emprestado e digo:
“Mulher, eis aí teu filho…
Filho, eis aí tua mãe.”
Nossa vida, meus irmãos, é cheia de encontros como esse de Maria com seu Filho. E também é cheia de desencontros. Encontro maior porque une o Coração da Mãe com o Coração do Filho. Aliás, Corações que nunca se desencontraram, nunca se separaram. Mas, é também o momento do desencontro porque Nossa Senhora sabe, no fundo de seu coração, que seu filho vai partir.
A morte é o efeito dos desencontros. Hoje somos convidados a contemplar nãos as chagas e o sofrimento de Cristo como se fôssemos masoquistas, em busca de um sofrimento vão. Não! Olhamos para o encontro de Maria e o seu Filho porque, nesse gesto, Cristo se entrega a morte para nos dar a vida, e daí olhamos este gesto supremo de amor sacrificado.
Na nossa vida, há uma diversidade de encontros e desencontros. Por exemplo: há o encontro de um homem com uma mulher para gerar a vida; há o encontro que une uma família para que possa alimentar a vida; há o encontro que une raças, que constrói uma nação. Há o encontro com Deus, que dá significado à vida; há o encontro que o povo de Deus faz para celebrar o mistério da salvação de Cristo pela humanidade.
Mas há também os desencontros que geram a morte. Há desencontro em nossas famílias que geram a morte de nossos filhos. Digo: não a morte propriamente dita, mas a morte espiritual, a morte da moral e dos bons costumes. Há morte da educação dos filhos para com os pais. O desencontro que gera carências nos filhos e esses se embrenham nas drogas, no sexo livre, nas bebidas.
Por falta de diálogo, há desencontros que destroem casamentos, geram divórcios, traições, brigas. Há desencontros provocados por nossa discriminação.
Mas há também os desencontros com Deus que deixam o homem e a mulher sem sentido para viver. Homens e mulheres, jovens e adultos que se perdem na depressão, buscam o suicídio e automutilação, por que querem tirar uma dor que não sabem de onde vem e por vem. Perde o sentido de viver.
Enfim, uma série de pessoas em todos os lugares, muitas vezes carregando uma cruz sobre os ombros que lhe foi imposta injustamente.
Queridos irmãos e irmãs, concentremos, nesta cena que está à nossa frente: O ENCONTRO DE JESUS COM SUA MÃE é um símbolo de todos os encontros e desencontros. Jesus experimentou o maior desencontro: a morte, mas faz isso para que nós pudéssemos reencontrar com Deus novamente.
Na história da criação, no livro do Genesis, vimos Adão e Eva se relacionando de forma bela e unida com Deus, o criador. Ele criou um JARDIM e os colocou dentro desse jardim. Na Sagrada Escritura, é possível percebe que há uma “certa intimidade” entre Deus e o Adão e Eva. Deus visita e caminha com eles no jardim (….) ouvi seus passos e tive vergonha e fugí….(cf. Gn 3,8ss).
Desde o início, através do relato do Genesis, podemos intuir que quando não sabemos utilizar conscientemente os dons que Deus nos deu, como por exemplo a liberdade a vontade. Iremos com certeza fazer opções, escolhas, muito erradas e que irá nos levar a encontros desastrosos e que se tornarão desencontros. O inimigo está sempre por perto para nos tirar do caminho certo e bom, ele nos tenta, nos seduz, para desejar o que não faz bem pra mim e nem para quem convive comigo. As vezes o ser humano é muito ávido pelo desejo do poder, do ter e do prazer. Ele se perde em tudo isso e quando admite e aceita essa situação ele rompe sua ligação, a união com Deus. A desobediência que é o não querer escutar a Deus, nos leva ao pecado. O pecado é o pior resultado do DESENCONTRO com Deus e com os irmãos. É o rompimento dessa “ponte” que NOS UNE.
Mas, Deus é criativo por que nos ama! Ele quer reencontrar com o ser humano e a forma que ele escolheu foi a ENCARNAÇAO – o amor se encarnou – é Jesus – o Emanuel – Deus conosco” é o ENCONTRO VERDADEIRO É O ENCONTRO DO AMOR E NO AMOR.
Uma certeza tenho no meu coração: Deus, nunca desistiu do ser humano, não desiste de nós e nem de você, ele quis reconstruir essa ponte, essa ligação. Ele enviou seu Filho, como o SUMO PONTIFICIE (isto é, a ponte que liga o céu e a terra, único e eterno mediador), para reconciliar o que estava distante, separado, para resgatar o que estava perdido, para restaurar o que estava danificado, para humanizar o que estava desumanizado. Como Deus fez isso? Através do AMOR. Deus amou tanto o mundo que enviou seu Filho para nos salvar e não para nos condenar.
EIS O MAIOR ENCONTRO
Contemplamos irmãos e (as), Jesus caminha dolorosamente para o desencontro da morte, mas acima de tudo, nos proporcionou novamente o grande encontro com o Coração de Deus.
Deus, em sua infinita misericórdia, entrega seu próprio Filho, que numa cruz, dá sua vida em remissão de todos nossos pecados. Cristo esvaziou-se de sua condição divina e tomou a forma de escravo, humilhado e rejeitado, para ser igual a nós, foi até o chão, foi até a lama, prostou o rosto no chão, nos abraçou, nos resgatou e ao ser levantado na cruz, levanta a cada um de nós. Ao abraçar a cruz, abraça cada pobre de Deus, cada deficiente, cada pai e mãe de família sofredor, cada drogado, cada prostituta, cada suicida e leva para Deus. Eis o maior encontro que se dá: Jesus morre na cruz e refaz a ponte. A ponte não é a cruz, mas o próprio Cristo pregado nela. Segundo São Paulo, “a linguagem da Cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas poder de Deus para os que se salvam, isto é, para nós (…) aprouve a Deus salvar os fiéis por meio da loucura da pregação. Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam a sabedoria, nós anunciamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos” (1 Cor 1, 18- 23).
Sabemos que a morte não tem a última palavra. Porque quem crê em Jesus mesmo que morra viverá para sempre. Ele mesmo afirma no evangelho de São João: Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, mesmo que morra viverá para sempre. (Jo 11, 25).
Queridos irmãos (as), olhemos e contemplemos neste instante a imagem de Nossa Senhoras das Dores. É difícil imaginar o que se passava no seu coração imaculado. Quais sentimentos…Será que ela tinha consciência de tudo o que o seu Filho estava sofrendo? Como ser humano, Maria sentia e sofria como qualquer outra mãe no tempo de Jesus e no nosso tempo. A imagem que contemplamos é uma imagem chorosa, piedosa, e de certa forma, representa um pouco do sofrimento que ela passou acompanhando o filho no seu caminho para a crucificação, no calvário. Cumpria-se a promessa de Simeão: “Uma espada te transpassará a tua alma” (Lc 2, 35). É difícil entender como uma mãe pode suportar tanta dor, tanto sofrimentos e tanto abandono.
A experiencia de Maria foi muito forte. Quando ela recebe a visita do Anjo Gabriel e ouve dele “conceberás e darás a luz a um Filho e que será chamado filho do altíssimo”. Com certeza, vendo o seu Filho passando por todo aquele sofrimento ela poderá se perguntar, por que? Sua a alma não compreende os desígnios de Deus, que só entenderá após a ressurreição, em Pentecostes, quando recebe o Espirito Santo paráclito.
Porém, mesmo sem entender, Maria é grande, porque tem fé, abandona sua vida e a vida de seu filho nas mãos de Deus. Ela meditava todos esses acontecimentos em seu o coração.
Há situações em nossa vida que não precisamos compreender tudo..por exemplo: os porquês disso ou daquilo?
O SILENCIO de Maria é o silencio do abandono na fé daquilo que ela não entendia: “Faça-se em mim segundo a tua vontade”. (Lc 1, 38).
Maria das dores é modelo para todos nós e sobretudo para as MÃES que ainda hoje veem seus filhos (as) sofrerem com uma doença incurável, com o vício das drogas (alcoolismo), com o desemprego, com a falta de sentido na vida, com a banalização da vida afetiva e sexual (os corpos sendo usados como objetos),..
Uma imagem que me toca bastante é aquela retratada pelo filme PAIXÃO DE CRISTO do ator e diretor Mel Gibson, quando Maria acompanha a flagelação de seu filho na casa de Pilatos e depois dos horrores que ela presenciou vendo o corpo do seu filho sendo dilacerado pelas chicoteadas que os soldados lançavam sobre ele. Jesus sem forças é preso pendurando no andar de baixo da casa de Pilatos. Maria sai à procura de seu Filho….Mãe procura e encontra, mão não desiste nunca….Maria reclinando o seu ouvido no piso gelado daquele dia e escuta a respiração ofegante do filho que sofre as dores da carne e da alma, se sentindo abandonado e isolado. O Filho sente a presença da mãe e é consolado por ela e o acalma e se sente tocado por aquela mãe que o carregou 9 meses no seu ventre. Lugar mais seguro para o filho….
Maria aos pés da Cruz. Outra imagem belíssima e que nos enche de fé. Maria e algumas mulheres aos pés da cruz. Estando em pé e vendo o sangue do seu filho escorrer sobre seu sagrado corpo e caindo no chão da realidade perversa da humanidade.
A IMAGEM PARA CONTEMPLAR: MARIA ESTÁ DE PÉ, SEM DESPERO, MAS CONFIANTE.
É difícil de mensurar a dor de uma mãe vendo o filho morrer dessa forma. Mas, Maria é símbolo de toda a humanidade que procura encontrar-se com Deus, ainda que debaixo de uma pesada cruz. Será possível encontrar Deus no sofrimento?
Ela arrasta consigo todos nós, desencontrados que desejamos o Coração de Deus.
ATENÇÃO IRMÃOS (AS). É em Jesus que a humanidade se encontrará com Deus. E, se Cristo na cruz é a ponte que nos liga a Deus, sabemos que é preciso passar pela cruz, é preciso passar pela dor e até pela morte para, com Cristo, ressuscitarmos com Ele. Como diz São Paulo, “é fiel esta Palavra: Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos”. (2 Tm 2, 11 -12).
Se quisermos imitar Maria, é preciso acompanhar Jesus em todos os momentos e tomar nossa cruz e seguir. Pois o mesmo Jesus diz: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, irá perde-la; mas, o que perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, irá salvá-la”. (Mc 8, 34-35).
Meus irmãos e minhas irmãs, não sei qual é a sua cruz, não sei qual é a sua dor. Não sei quais são os seus problemas: crise familiar, crise na vida conjugal, relacionamento entre pais e filhos que não via bem…quem sabe você pode pedir essa graça a Nossa Senhora das Dores que te ajude a caminhar seguindo os passos de Jesus na sua entrega total por amor a cada um de nós. Maria tem muito a ensinar….
Maria é a especialista de Deus na arte do encontro. Eva no desencontro e AVE no encontro. É a Ela a quem devemos recorrer, pedindo a intercessão quando nossa vida começa a dar sinais de cansaço no amor e ameaçar caminhar para o desencontro.
A reflexão a seguir inspirei-me de um sermão de autor desconhecido:
“São João nos ajuda a rezar quando apresenta o diálogo de Jesus e sua mãe aos pés da cruz: Mulher, eis aí o teu Filho e Filho eis a tua mãe”. Rezemos pedindo por Maria:
– Mulher, lembra-te do anjo que anunciou a luz, lembra-te do menino que aconchegou no teu colo? Eis aí o teu Filho!
– Mulher, lembra do menino que Simeão exultou de alegria ao vê-lo no templo? Eis aí o teu filho!
– Mulher, lembra do jovem que trabalhava junto do pai José, e contigo conviveu 30 anos? Eis aí o teu filho!
– Mulher, lembras do profeta corajoso, que derrubou os poderosos, saciou os famintos, abriu os olhos dos cegos, curou paralíticos, deu a voz aos mudos, ressuscitou Lázaro? Eis aí o teu Filho!
– Mulher reconhece aí o teu filho! Seu filho com o rosto ensanguentado e com a coroa de espinhos? Reconhece sua criança, seu jovem, teu filho querido? Ei aís o teu Filho!
– Mulher dolorosa, tu nos deste um filho forte, bonito e sadio, mas o devolvemos desfigurado e agonizante.
Mulher, sei que quase não reconhece mais seu filho. Se não fosse seu coração de mãe, não seria capaz de identificar seu filho. Mas de fato essa não e mais a imagem do teu filho querido. Ele tornou-se nosso retrato, ele assumiu nosso rosto, tomou sobre si nossas odres e misérias. Ele chegou ao fundo do poço para encontrar conosco.
No seu corpo dilacerado pelas chibatadas, está o corpo de cada um de nós. A pena era nossa, a humilhação era nossa, a cusparada era par ser em nós, mas o seu filho assumiu por mim e por cada um de nós.
Mulher, no corpo de seu filho está cada família que se divorcia, cada filho drogado, cada deficiente, que o mundo dilacera com seu ódio e egoísmo.
Mulher no corpo de seu filho está todos aquele que perderam a esperança na vida e não sabem mais o sentido da vida. Toda nossa miséria desabou sobre o corpo de Jesus e o desfigurou.
_ Mulher eis aí o teu filho…
– Mulher eis aí cada um de nós.
Deixa mulher que ele continue sua caminhada de dor até o fim. É a nossa única esperança de vida e de amor, de perdão. É a única maneira de reconciliarmos com Deus. É a única maneira da ponte ser refeita. Não o impeça, por favor. A nossa libertação está próxima.
– Filho, eis aí a tua mãe.
– Eis a mulher que foi serva do Senhor até o fim e contigo caminha até a cruz.
– Eis a mulher do sim que foi capaz de renunciar a tudo para se tornar nossa mãe.
– Eis a mulher que acreditou no Senhor, e que guardava e meditava tudo no coração, mesmo quando não entendia.
– Filho, eis aí tua mãe.
– Eis aí a nossa mãe; Ela inverteu o nome de Eva e tornou-se nosso AVE cheia de graças. Preferiu outra árvore, a árvore da vida, a árvore da cruz”.
Ela está perto de ti nessa caminhada, e carrega em seu coração o nosso também. Ela é símbolo da humanidade sofrida e de nossas famílias dilaceradas e que não desiste de caminhar.
Quando todos os apóstolos fugiram, ela permaneceu firme ao seu lado. Na espada que transpassou a sua lama, estão as dores e arrependimentos.
FILHO, DÁ-NOS DE NOVO A TUA MÃE.
São Raimundo, 23 de março de 2024.
Dom Ronilton Souza de Araújo, SCJ.
Bispo da Diocese de São Raimundo Nonato – PI.