No início de 2020 fomos apresentados para uma agenda surpreendentemente cheia e, ainda, com uma infinidade de datas esperando acertos e confirmações. A impressão é que tínhamos combinado de fazer tudo e mais um pouco para compensar o que ficou perdido em 2019 e adiantar algo de 2021.
Não contávamos, entretanto, com a tragédia anunciada, mas não levada a sério, por muitos daqueles que deveriam prestar atenção e levar a efeito, ações de prevenção e cuidado. O carnaval tinha apelos econômicos irrenunciáveis.
O que era “nada” ou “quase nada”, na visão e versão de alguns céticos e imprudentes, ganhou território, expressão, força e nome de pandemia em tempo recorde.
Em pouco tempo tivemos que desfazer as malas, guardar os sapatos, abandonar a agenda e ficar em casa. Enquanto isso, outros tiveram que fechar as portas, até dos templos. Medidas austeras e necessárias, diante do desconhecido e mortal.
Ligados, diuturnamente, à TV ou ao celular passamos a consumir notícias, informações, fatos e boatos de infectados e mortos, primeiro em todo mundo e, depois, vertiginosamente, no Brasil. De alguma forma nós, também, fomos adoecendo.
Ficar em casa passou a ser, não apenas uma exigência externa de controle pandêmico, mas uma oportunidade de suavização da ansiedade, de cura da alma, de reaproximação familiar, de contato pessoal, de comunhão de mesa, de redescoberta dos valores humanos e do senso de amor e acolhida.
Entre distorções e aprendizados estamos vivendo num tempo crítico, com uma forte tendência a progredir na mentalidade acrítica e alienada que, valoriza as notícias falsas, abençoa a demonização do que não é política de consenso, ideologiza Deus, instrumentaliza a religião, infantiliza as buscas, dessacraliza as pessoas, monetariza a esperança e culpabiliza o pobre.
Tudo está envolvido pela pandemia, no mundo todo, mas, ao mesmo tempo, o que parece óbvio parece deixar cego, surdo e mudo, muita gente desse mundo todo. Por todo canto há renitentes que bradam soluções mágicas ou de impacto e, de outro lado os céticos e escarnecedores. Mas não bastarão os esforços de contenção ou remediação, como tem acontecido, com insistência. Isso é pouco, para não dizer inútil. Porque não são os efeitos que merecem uma guerra declarada, mas sim as causas.
O problema é mais para cima… mais para baixo… mais para o lado… mais para o meio… O mundo está doente ou o que é pior: toxicamente adoecido pelo medo e pela insensibilidade. Infelizmente existe uma indústria de interesses por detrás de todos os males que assolam a humanidade e, isso, hoje, é compartilhado, vergonhosamente, como negócio, num pregão de dissimulados.
Por todo canto há rumores conspiratórios sobre a origem dos males e, também, da pandemia presente! Verdade ou mentira? Se alguém inventou alguma coisa, o nome disso é banalização. Sim, banalização da vida com seu corolário de violência e dissimulação. E, não são poucos os (ir)responsáveis por isso, em todas as nações, mundo afora.
Infelizmente, a vida passou a valer menos, a cada dia que passa porque, deixou de ser o centro de referência e o valor absoluto para todos. A vida converteu-se em moeda e transformou-se em negócio: bem de consumo para um mercado insatisfeito e, sempre, ávido.
Nada é mais triste do que passar por dificuldades e não aprender e nem crescer com elas. Estamos passando por uma escola. Não podemos perder esta oportunidade de ouro. Tudo leva a crer que temos aprendido a lição e que, seguramente, estamos sendo mudados por tudo o que está pesando em nossos ombros. Claro que uns mais e outros menos. Mas, qualquer que seja a mudança é uma verdadeira maravilha.
A meta é que sigamos em frente, retomando a vida, sem relaxar os cuidados.
Abracemos 2021 com a energia da responsabilidade.
POR: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos
Foto: Google