FESTA DE NOSSA SENHORA DA VITÓRIA – ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
“COM A MÃE DA VITÓRIA, CAMINHAR JUNTOS COMO IGREJA MISSIONÁRIA”
Maria Assunta ao céu é um convite a olharmos para o futuro. A Igreja, desde suas origens, cultivou esta consoladora notícia na sua memória de fé. O Papa Pio XII, durante o Ano Santo de 1950, na qualidade de intérprete da “tradicio fidei” declarou que esta notícia cultivada na memória do povo de Deus é uma notícia autêntica: essa vem das origens apostólicas, vem do fato veramente acontecido.
A primeira leitura da liturgia de hoje é uma representação dramática da história humana para dizer-nos que a vida não é uma brincadeira, é algo extremamente sério. Como este reclamo é atual. Hoje, de fato, a vida é excessivamente banalizada. Mata-se facilmente. Às vezes, mata-se por causa do sistema vigente que privilegia alguns cidadãos e exclui uma grande massa de homens e mulheres que não têm oportunidades para garantir o pão de cada dia para os seus filhos. Outras vezes, vidas são ceifadas por causa da perda do sentido da existência em consequência da escassez dos valores que deveriam elevar a dignidade de cada ser humano. Quantos jovens (e também adultos) que, por causa deste vazio humano, espiritual, social e existencial, não resistem e desistem de lutar pela vida. Quais são os valores que a família transmite aos seus filhos neste mundo pós-moderno? Só a fé em Deus poderá restituir valor e dignidade à vida.
Vamos ao texto: “No céu aparece um sinal grandioso: uma mulher que gritava pelas dores do parto…” (Ap 12,1-2). Esta mulher é a imagem de todos aqueles que amam a vida, que sofrem pela vida, que defendem a vida, que creem na vida porque creem em Deus. São tantos que se empenham nesta luta, que trabalham para salvar a dignidade humana. Esta é a missão da Igreja e, nesta Igreja, Maria é o vértice, é a primeira a acreditar.
Mas esta mulher é ameaçada: “No céu aparece outro sinal: um grande dragão, cor de fogo. Tinha sete cabeças e dez chifres e, sobre as cabeças, sete coroas. Com a cauda, varria a terça parte das estrelas do céu… O dragão parou diante da mulher, que estava para dar à luz, pronto para devorar o seu filho, logo que nascesse” (Ap 12,3-4). Qual é o êxito desta luta? A fé nos diz que vencerá a vida, vencerá a bondade e a justiça, porque Deus mesmo está empenhado nesta luta. Mas não vamos pensar que a batalha é simples. No percurso da batalha, muitas vidas são ceifadas, muitos homens e mulheres do bem são martirizados.
Um sinal e uma premissa desta vitória se chama Maria de Nazaré, a Senhora da Vitória! Voltemos o nosso olhar pra ela, porque através de sua vida se ilumina também a nossa vida e a da Igreja. O Evangelho trata da visita de Maria a Isabel. Maria sai da aldeia de Nazaré e vai a uma aldeia da Judéia para servir. Na anunciação, em Lucas 1,37, o anjo informara Maria a respeito da gravidez de Isabel, com a garantia de que nada é impossível para Deus. “Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice; já está no sexto mês aquela que era chamada de estéril, pois para Deus nada é impossível”. Ao declarar-se serva do Senhor, ela concebe Jesus e, como sinal de serviço, dirige-se apressadamente à casa de Zacarias, ao encontro e a serviço de Isabel (vv. 39-40).
A cena mostra o encontro de duas mães agraciadas com o dom da fecundidade e da vida. Mostra também o encontro de duas crianças, o Precursor e o Messias, ambos sob o dinamismo do Espírito Santo. João Batista exulta no seio de Isabel que, cheia do Espírito Santo, proclama Maria bem-aventurada. A grande bem-aventurança de Maria é ter acreditado que as coisas ditas pelo Senhor iriam se cumprir. “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu” (v. 45).
Duas são as características mais importantes de Maria no relato da visita a Isabel. Estas são exatamente as qualidades do discipulado no Evangelho de Lucas: atenção e adesão absolutas à Palavra de Deus e, como consequência disso, serviço incondicional a quem necessita.
Esta é a indicação para nós que pretendemos caminhar juntos, como Igreja missionária. Que nunca nos falte o espírito da sinodalidade, do amor, do serviço, da obediência, da coragem e da profecia. Que Nossa Senhora da Vitória nos ajude com o seu testemunho a não nos casarmos nos caminhos e nas regiões montanhosas a serem percorridos para ajudarmos a construir o Reino de Deus.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras