O que será que sobrou das nossas quartas-feiras de cinzas: Lembranças? Saudades? Tradição? Medo? Dúvida? Apreensão?
Será que toda essa história de quarta-feira de Cinzas já não diz mais nada, porque não passa de mais um dia que vem após o carnaval que, aliás, nesse ano nem aconteceu?
Cinzas para incomodar
Não precisamos remexer o baú das tradições religiosas ou da piedade popular para responder.
A questão não é a quarta-feira de Cinzas. A questão é que estamos mergulhados num crescente secularismo, numa perda de memória histórica e num indiferentismo religioso
As cinzas lembram o pó do qual somos constituídos (Gn 18,27), mas o que as cinzas devem ser, de verdade, para todos nós, é tão forte quanto aquele que a fez: o fogo, para incomodar e para converter.
Rasguem o coração de vocês
Receber as cinzas é mais do que um gesto de piedade, do que uma tradição religiosa… é um compromisso de fé, um empenho pela conversão pessoal e a transformação do mundo. Quando as pessoas percebiam que haviam transgredido a Lei de Deus, que haviam sido infiéis: rasgavam suas vestes, se vestiam de saco e se cobriam com cinzas (2Sm 13,19; Est 4,1; Jó 2,8; 30,19; 42,6; Jn 3,6).
O Profeta Joel vai às últimas conseqüências do antigo gesto do saco e das cinzas propondo um sentido novo e mais completo: “Rasguem o coração de vocês e não as roupas! Voltem para Javé, o Deus de vocês pois ele é piedade e compaixão… (Jl 2,12-17).
Onde está a Quaresma?
Quarta feira de Cinzas marca o início da Quaresma, um tempo forte que já marcou a vida de muitas pessoas, sob diversos aspectos, mas que, em nossa época atual, perdeu grande parte do seu significado e força. É claro que, havia muitos temores injustificáveis, folclores… O tempo passou, grande parte dos temores acabaram e a quaresma parece seguir o mesmo curso. Surge uma dúvida: será que as pessoas estavam mais propensas aos temores que aos valores e tesouros da quaresma? Será que, por não haver mais tantos temores, vamos jogar fora aquilo que dá à nossa vida real fundamento e valores? Onde está a quaresma? Será que ainda conseguiremos reavê-la?
Raízes de nossa quaresma
A quaresma busca seu real valor e significado na história do povo de Deus que caminhou quarenta anos no deserto (Ex 16,35; Nm 14,33) e na vida de Jesus que foi tentado durante quarenta dias no deserto (Mc 1,12). A simbologia do número 40 nos deu a Quaresma que se tornou uma interpelação de Deus para a nossa conversão, enquanto caminhamos neste mundo. Gestos de Piedade como a Oração, o Jejum, a Penitência e a Caridade associada a Atitudes de fé, vão formando o cristão maduro.
Comecemos a quaresma pelas cinzas, numa atitude de fé; com jejum e abstinência de carne. Nada por simples tradição, mas por convicção!
Neste ano 2021, no contexto da Pandemia e chamados pelas intuições da Campanha da Fraternidade Ecumênica, somos chamados a viver a Quaresma, numa disposição de diálogo, vivido como compromisso de amor porque, “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14).
Resgatemos a quaresma da conversão para Cristo.
Que todos tenham uma excelente caminhada quaresmal.
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos
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