Os anos passam, o tempo corre, a vida vai em direção a uma meta. A vida é uma passagem! Alguns dizem que a vida é uma passagem em direção ao nada; ou seja, um salto no vazio. Assim a vida não há mais sentido. De fato, se a vida humana é uma passagem em direção ao nada, nós somos levados a viver um desejo de felicidade que nunca se cumprirá, uma espera de justiça que não se realizará. Sem julgar e condenar quem não espera, nós propomos a nossa esperança. Nós propomos a nossa espera da ressurreição.
Antes de tudo agradecemos a Deus pelo dom da fé, pela qual muitos deram a vida. A fé é assim fascinante que muitos têm deixado tudo em nome dela. Essa responde tanto às esperas do coração humano, que muitos, quando a encontram exclamam como Santo Agostinho: “Como fiz, Senhor, a viver até agora sem Ti?”.
A nossa fé cristã é toda ligada a uma pessoa: Jesus, o Cristo morto e ressuscitado: “Não tenhais medo! Sei que procurais Jesus o crucificado. Não está aqui. Ressuscitou como tinha dito… E agora vos precede na Galileia; lá o verás” (Mt 28,5-7).
Uma testemunha ocular dos fatos da vida de Jesus, o apóstolo Pedro, assim escreveu: “Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas por termos sido testemunhas oculares da sua grandeza”. (2 Pd 1,16).
Mas se Jesus é Deus feito homem e morreu e ressuscitou por nós, o que muda na nossa vida? Muda o senso de tudo! A Ressurreição de Cristo nos leva a um grande otimismo. Somos chamados a termos confiança e a darmos sentido à vida.
Sabemos obviamente que existe o mal, a dor, as enfermidades, a morte. O momento atual que vivemos, por exemplo, isolados por causa de um vírus denominado covid-19, é um sinal que nos leva a constatar que o mundo está enfermo e que tal enfermidade não pode ser curada se não fizermos a nossa parte. Trata-se de uma moléstia que só tem cura se houver uma ação coletiva, embora assumida individualmente por cada um de nós. Daí porque estamos fazendo a nossa parte, isolando-nos uns dos outros. Ah, como dói! Como dói o coração do pastor estar aqui celebrando a Eucaristia, em plena Páscoa, sem poder sentir a presença física de vocês que são ovelhas deste redil. É angustiante imaginar que muitas pessoas também poderão adoecer por estarem se submetendo a uma situação involuntária de isolamento. Eu sei que o isolamento também pode causar muitas enfermidades. Portanto, irmãos e irmãs, coragem! Não se deixem abater. Busquem a força da Palavra de Deus, quotidianamente, para que nela encontrem a razão da esperança e a certeza da vitória.
Nada nos fará medo, porque sabemos que Deus mesmo se inseriu em um movimento de renovação do mundo, se empenhou ao nosso lado no caminho da ressurreição total da humanidade. A ressurreição parte do coração, por meio de uma libertação e uma transformação que nos torna capazes de um amor grande como aquele de Deus. A ressurreição é, portanto, dom e conquista, futuro e presente, espera e experiência junto. A alegria da vida ressuscitada se pode já experimentar vivendo a caridade autêntica nas suas expressões de serviço humilde, de perdão total, de mansidão e benevolência, de dom total de si mesmo.
A fé na ressurreição nos impede de pensar em uma salvação toda interior, impalpável e quase em contraste com as exigências materiais do homem. Se o corpo é destinado à ressurreição, também as suas esperas são esperas de ressurreição. Não podemos aceitar passivamente a pobreza, fome, o sofrimento, a prostituição do corpo e redução do homem a “carne” sem alma e sem dignidade. Devemos ser os defensores da dignidade da vida de todos em nome daquele que não hesitou em vir a nós, a morrer e ressuscitar por nós, porque Deus crê no homem mais de quanto o homem creia em Deus.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras