Toda a nossa vida é marcada por uma incessante busca de Deus. Queremos descobrir onde ele está, senti-lo próximo de nós, tocá-lo, falar-lhe, ouvi-lo, compreende-lo… enfim, encontrá-lo. Em meio a erros e acertos, quedas e reerguimentos, tropeços e passos vamos construindo a nossa história humana em busca de Deus.
As experiências de buscas se multiplicam; formam-se os caminhos, as doutrinas, as normas e os preceitos; criam-se as hierarquias, as mediações, os ritos e as liturgias; estabelecem-se as denominações, os templos, os calendários e a movimentação.
A busca de Deus tem, invariavelmente, um pouco de criações humanas. O que não é mal em si. Mas, há sempre o risco das coisas de Deus se converterem em mero artifício humano; em instituição humana. Nesse sentido, todas as religiões, sem exceção, correm o risco de se esvaziarem do SENTIDO PROFUNDO DE DEUS, se projetando para auto-afirmação institucional.
Em outras palavras, a busca de Deus que deveria levar ao encontro pessoal com Deus, leva ao encontro com a instituição e com suas criações. Deus estaria servindo, apenas, como um meio para agregar pessoas, reuni-las em função da justificativa dos propósitos humanos, realçados pela oferta e busca mercantilista de poder, prestígio, prosperidade, fama e dinheiro. Neste caso, o objetivo da busca, que era Deus, se converte em instrumento, em meio.
O Cristianismo abriga inúmeras denominações. E, a propósito da busca de Deus, cada uma elege e se serve dos mais diversos esquemas e estratégias para financiarem os seus objetivos. Nem todos os esquemas e estratégias são maus. Como nem toda denominação é boa, idônea e crível.
No fundo, a questão é a seguinte: Uma vez que a busca e o encontro com Deus é o clamor mais profundo da nossa existência, como as mediações religiosas podem contribuir para tornar isso possível sem instrumentalizar a Deus a serviço dos esquemas e estratégias?
Tentando encontrar algumas respostas, é preciso dizer, antes de mais nada, que o encontro com o Deus vivo acontece no cotidiano no bojo das relações estabelecidas com as coisas, com o outro e com o mundo. É a experiência no “comum” da nossa vida, quando olhamos para tudo o que está à nossa volta. É o esplêndido que surge do banal, É a luminosidade que nasce da pequena chama. É o extraordinário que brota do ordinário. Isso é a experiência transcendental. Tudo fala de Deus porque tudo está impregnado de Deus.
A experiência de Deus também acontece quando olhamos para nós mesmos e nos vemos marcados por Deus, desde o nascimento até à morte. Tudo em nós fala de Deus. Estamos revestidos de Deus. A experiência de Deus acontece, ainda, olhando para o próprio Deus na sua palavra (Sagrada Escritura) e nos mistérios celebrados na Sagrada Liturgia (principalmente a Eucaristia). Dito isso, não podemos deixar de enfatizar que, enquanto fonte da experiência de Deus, a Sagrada Escritura deve ser pensada não só nos dentro dos limitados parâmetros da experiência pessoal mas, também, comunitária. O Lugar, por excelência, da Sagrada Escritura é a comunidade porque se originou da vivência comunitária da Palavra de Deus.
A Bíblia não caiu do céu e nem foram os anjos que a escreveram. A Bíblia foi feita em mutirão e se destina à comunidade. A Bíblia lida e meditada, só é capaz de mudar, transformar e realizar a PESSOA, em particular, porque, antes de tudo, é capaz de realizar tudo isso sobre a COMUNIDADE.
A Bíblia deve estar no centro da nossa vida pessoal e comunitária formando a nossa consciência e mentalidade de POVO DE DEUS. A Bíblia é como um SONHO: “sonho que se sonha sozinho é simplesmente um sonho mas, sonho que se sonha junto, é realidade”.
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos
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