“INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ: CAMINHO PARA O ENCONTRO COM CRISTO”
Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (Lc 24,32-33)
Caros irmãos e irmãs: presbíteros, diácono, religiosos/as, seminaristas, membros do Conselho Pastoral Diocesano e do Conselho Administrativo, Coordenadores Diocesanos de pastorais, serviços e movimentos, representantes das Paróquias e Áreas Pastorais. Sejam todos bem-vindos à nossa XV ASSEMBLEIA PASTORAL DIOCESANA.
Com júbilo, fé e esperança, damos início aos nossos trabalhos com a celebração da Santa Missa, pois, entendemos que partindo da Sagrada Eucaristia seremos fortalecidos e iluminados para bem pensarmos o nosso agir pastoral e o nosso testemunho eclesial.
Deixemo-nos, imbuídos do Espírito Santo, impulsionar pela Palavra de Deus, pela força da Eucaristia e pelos ensinamentos do Magistério da Igreja para que, de fato, cheguemos a construir um Plano Diocesano robusto, consistente, operante e exequível, que responda às vicissitudes do tempo presente e nos direcione na consolidação de uma Igreja verdadeiramente sinodal que viva intensamente a experiência da COMUNHÃO, da PARTICIPAÇÃO e da MISSÃO. Para isto, temos alguns desafios a superar, como nos indica Dom Pedro Cipollini em sua obra “Por uma Igreja sinodal”:
- Viver a comunhão sem cair no “democratismo” – Sinodalidade não se confunde com democracia, mas é expressão de comunhão (koinonia), uma dimensão constitutiva da Igreja. Essa palavra significa o que há de comum (com-munis = condividir os afazeres, as obrigações, a carga a carregar), indica companheirismo, participação, solidariedade e, sobretudo, comunhão íntima e interligada. Essa palavra designa as duas relações essenciais constitutivas da Igreja: a comunhão de todos os fiéis com Deus e a comunhão de todos os fiéis entre si.
- Vivência mais intensa da diocesaneidade – A Igreja particular (diocese) é uma parte do todo. Ela é a realização da Igreja Católica em uma sua porção. Na visão do Papa Francisco, o primeiro nível de exercício de sinodalidade realiza-se nas Igrejas particulares. “Ela é o sujeito primário da Evangelização” (EG 30).
- Apostar e incentivar um maior protagonismo dos leigos – O Concílio Vaticano II nos ensina que pelo batismo, todos na Igreja têm a mesma dignidade, a diferença está no ministério que cada um ocupa, dependendo de seu carisma (LG 4). Devemos ter cuidado para não querermos infantilizar os leigos trantando-os como meros colaboradores e raramente protagonistas.
- Dar espaço para a “parrésia” – No NT essa palavra se traduz por valentia, liberdade, audácia e confiança. Quem tem parrésia tem a intenção clara de dizer a verdade. E isto tem um alto preço: rejeição, difamação, impopularidade, perseguição e até por vezes a morte. Porém, não esqueçamos que a verdade deve ser dita sem nunca perdermos a ternura e o amor. Do contrário, causamos ruptura.
- Superar o clericalismo – Entenda-se clericalismo como “corporativismo do clero”. O Papa Francisco nos adverte: “O clericalismo é uma tentação permanente dos sacerdotes que interpretam o ministério recebido como poder que se exerce, mais que um serviço gratuito e generoso a oferecer” (Christus Vivit 98). DA 186: “Junto com todos os fiéis e em virtude do batismo somos, antes de mais nada, discípulos e membros do povo de Deus. Como todos os batizados e, junto com eles, queremos seguir Jesus, Mestre de vida e verdade, na comunhão da Igreja”.
- Cuidado e atenção com o modo de gerir a economia da Igreja – Devemos constantemente ser vigilantes para evitar a má gestão e a má administração. É preciso ”fazer milagre” com o pouco que recebemos, pois, tudo o que adquirimos vem do sacrifício dos nossos fiéis. Não custa envolver os leigos na participação da gestão através do Conselho de Assuntos Econômicos. A transparência na gestão das finanças favorece maior credibilidade e garante da parte dos fiéis maior generosidade na partilha do dízimo, ofertas e doações.
- Para além da ética da obediência, a ética da responsabilidade – Passar da ética da obediência à ética da responsabilidade, não dispensa a obediência, mas exige que ela seja consciente e responsável. A responsabilidade vem da resposta ao que se escutou e compreendeu.
- Praticar as virtudes necessárias: acolhida, escuta, paciência e diálogo – O que se requer para criar a sinodalidade? O objetivo de um sínodo é o discernimento comunitário à luz do Espírito. Todos os membros da Igreja são corresponsáveis em amadurecer as escolhas e planejar o caminho comum a percorrer. Isto requer: maturidade humana, capacidade de ler os sinais dos tempos, afinidade com a missão evangelizadora da Igreja, vida interior, espiritualidade alimentada pela Palavra de Deus e abertura à ação do Espírito Santo. Não pode ser “cada um por si e Deus por todos” como fruto de uma espiritualidade intimista.
- Uma Igreja menos triunfalista para ser uma Igreja peregrina “em saída” – Vivemos em função do Reino. A Igreja não vive em função de si mesma. “Só o Reino é absoluto, e faz com que se torne relativo tudo o mais que não se identifica com ele” (EN 8). A razão de ser da Igreja é colocar-se a serviço do Reino de Deus. Quanto mais configurados à pessoa de Cristo, o Servo Sofredor, que entrega a sua vida, carrega a cruz e derrama o seu sangue para remir a humanidade dos seus pecados, mais eficientes seremos na ação evangelizadora.
- Os fiéis também são ungidos pelo Espírito Santo em vista da missão – “Cada um dos batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas ações” (EG 120).
- Passar da Lei do preceito à “Lei do Espírito” – Na Igreja como em todo lugar há necessidade de leis, elas são úteis e necessárias, porém não se pode antepor a lei à graça de Deus, a graça vem primeiro que a lei. “O princípio da primazia da graça deve ser um farol que ilumina constantemente as nossas reflexões sobre a evangelização”! (EG 112). A Lei do preceito corre o risco de formar cristãos acomodados ou medíocres, mas a Lei do Espírito infunde dinamismo e ardor missionário e ainda, faz descobrir e transmitir a “mística” de viver juntos para não deixar que “nos roubem a comunidade” (EG 87).
São muitos os desafios, mas certamente nos damos conta que não estamos em último lugar nesta “corrida”. Graças ao bom Deus, há muitos sinais de sinodalidade em nossa Igreja Diocesana, mas não sejamos soberbos nem presunçosos, pensando que já chegamos ao topo do pódio. Temos um longo caminho a percorrer. Daí porque estamos aqui reunidos, para juntos pensarmos como “avançar em águas mais profundas”.
Aproveitemos o Ano temático da Iniciação à Vida Cristã e o Ano Vocacional, como oportunidade da graça para fomentarmos maior efervescência em nossa ação missionária. Neste Caminho para o Encontro com Cristo, movidos pelo lema “Corações ardentes, pés a caminho” (Lc 24,32-33), sigamos firmes, impulsionados pelo Espírito Santo de Deus. Certamente, muitas sementes serão plantadas e muitos frutos serão colhidos.
Aproveito a ocasião para dar-lhe uma informação. Considerando que já fazem cinco anos que me encontro entre vós, nesta amada Diocese de Oeiras, exercendo o papel de pastor e guia, parece-me oportuno aproveitar o percurso da história para realizarmos em 2023/2024 o processo de Visitas Pastorais nas paróquias e Áreas Pastorais de nossa Diocese. A Visita Pastoral é exercício da função episcopal determinada pelo Código de Direito Canônico. Esse é um costume na Igreja desde os tempos apostólicos quando os apóstolos passavam pelas várias comunidades fundadas confirmando os irmãos na fé. Eu pretendo, com estas Visitas, assegurar a prática de uma Igreja que vive a experiência da comunhão, da participação e da missão.
Sigamos firmes e com alegria na missão, mesmo que ocasionalmente tenhamos que experimentar o gosto amargo das incompreensões em consequência da profecia e da fidelidade à palavra de Deus, conforme nos atesta a leitura que ouvimos na liturgia de hoje: “Pega e come: Será amargo no estômago, mas na tua boca será doce como mel” (Ap 10,8-11). E mais, sejamos cuidadosos com os templos que estão sob os nossos cuidados no sentido de não profana-los e zelosos com o povo santo de Deus. Do contrário, seremos chicoteados por Jesus por não cumprirmos o nosso dever. As palavras de Jesus que ouvimos no Evangelho de hoje são duras: “Está escrito: Minha casa é uma casa de oração. No entanto, vós fizestes dela um antro de ladrões” (Lc 19.46). Esforcemo-nos para que as nossas práticas e atitudes sejam agradáveis a Deus. Temos uma grande responsabilidade e um grande desafio: Fomentar em nós mesmos e no rebanho que nos foi confiado o fascínio por Jesus, pois, era assim que acontecia quando Jesus falava: “O povo todo ficava fascinado quando ouvia Jesus falar” (Lc 19,48).
Assim sendo, considerando estas indicações que espero ser norteadoras, desejo-lhes uma abençoada e frutuosa Assembleia. Deus nos ajude e Nossa Senhora da Vitória seja a nossa intercessora!
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras