Quinto Domingo do Tempo Comum
Todos somos chamados
As leituras de hoje falam da vocação. Na verdade toda a Bíblia é livro de vocações, porque a vida humana é vocação. Mas muitos não se advertem de serem chamados. Muitos não sentem que Deus tem um projeto para as suas vidas. Eis porque às vezes o mundo parece complicado e aparentemente desconexo. Deus, de fato, conduz a história do mundo em um diálogo respeitoso com a liberdade humana.
Voltemo-nos para as leituras. A primeira leitura narra a vocação de Isaias. Como entende o profeta de ser chamado por Deus? Antes de tudo ele se dá conta de uma situação que o coloca em crise: Isaias ver a corrupção, ver a infidelidade, ver o abandono do povo. Ele não fica indiferente. Isaias sofre e entende que deve fazer algo. É quando Deus lhe faz sentir as palavras: “Quem enviarei? Quem irá por nós?”. O profeta responde: “Aqui estou! Envia-me” (Is 6,8).
Mas esta resposta é fácil? A Bíblia diz que a resposta é bela, mas não diz nunca que a resposta é fácil. Ao contrário, na Bíblia vem registrada a luta interior vivida por tantos chamados: Jacó é chamado “o homem que lutou com Deus”; Moisés tenta de todo modo fugir do chamado; Jeremias quase implorando se volta para Deus para dizer: “Senhor, sou muito jovem! Manda outro”.
Como é possível decidir-se pelo “sim”? Qual é a garantia que Deus dá àquele que é chamado? Vejamos o Evangelho. Jesus diz a Pedro: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4). Um pescador esperto como Pedro poderia ter dito: “Mas tu vens de Nazaré! O que entendes do mar, o que entendes de pesca? Queres ensinar a mim que pesco há tantos anos?” Pedro, na sua simplicidade e sabedoria não raciocina assim, mas diz: “Nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes” (Lc 5,5). Naquele momento Pedro dá um salto de qualidade na sua vida. A partir daquele momento não é mais ele o centro de sua vida. O centro é outro: é Cristo.
“Em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. Maravilhosas palavras. Quantas vezes nós não somos capazes de nos abandonarmos à vontade de Deus! Depois do “sim”, quando este é sincero, nos damos conta da nossa pequenez e de tanta desproporção: se sente na própria carne que tudo vem de Deus. É extraordinário o gesto de Pedro, depois da pesca milagrosa: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” (Lc 5,8).
São Paulo, na segunda leitura, confessa publicamente: “Cristo chamou também a mim, como a um abortivo. Na verdade eu sou o menor dos apóstolos, Nem mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. É pela graça de Deus que eu sou o que sou” (I Cor 15,8-10). O chamado é um dom. E cada chamado não deve ser absolutamente esquecido ou desprezado.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras