Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum
Somente Deus pode ensinar-nos a amar
O Evangelho de hoje começa dizendo que grandes multidões acompanhavam Jesus. Tanto no passado como hoje muitos seguem Jesus. Porém é possível seguir Cristo com o coração de Pedro ou com o coração de Judas; com o coração de Tomé ou com aquele de João. É importante esclarecer o que significa seguir Cristo. Voltando-se para aquele povo Jesus disse: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e de sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 26). Estas palavras são duras e inquietantes. Como é possível colocar Cristo antes do pai e da mãe, antes dos filhos, antes de si mesmo, antes de tudo? Não estaria Cristo pedindo demais? Na verdade, por trás destas interrogações se esconde um sutil medo: o medo que Deus torne-se concorrente dos nossos afetos.
No entanto este medo não há razão pra existir. De fato Cristo nos pede para amarmos Deus antes do pai e da mãe, porque só amando Deus é possível amar veramente o pai e a mãe, o esposo ou a esposa, os filhos, a vida.
Na verdade o amor possessivo não é verdadeiro amor. O amor sem sacrifício não é verdadeiro amor. Por isso Jesus com decisão propõe a verdade que nos faz livres. E a verdade é esta: só Deus pode ensinar-nos a amar. Só colocando Deus em primeiro lugar se é capaz de ser humano, verdadeiramente humano.
O que significa colocar Cristo em primeiro lugar? Significa entregar-se à sua lógica, ao seu estilo. Significa reconhecer-se nele.
Deus em primeiro lugar. Isto nos faz medo? Mas Deus é Amor Infinito. Amando Deus se recupera o amor ao próximo. Porém é um amor liberado, desintoxicado do egoísmo e, portanto das insídias da morte.
Madre Teresa confirma este raciocínio quando diz: “Deus me ensinou a amar. Aprendi dele, somente dele”.
A segunda leitura de hoje é um testemunho sobre a verdade deste Evangelho. Trata-se de uma brevíssima carta escrita por São Paulo, endereçada a Filemon. Este defende o escravo Onésimo com palavras tocantes: “Eu, Paulo, velho como estou e agora também prisioneiro de Cristo Jesus, faço-te um pedido em favor do meu filho que fiz nascer para Cristo na prisão, Onésimo. Eu o estou mandando de volta para ti. Ele é como se fosse o meu próprio coração… recebe-o, já não como escravo, mas, muito mais do que isso, como um irmão querido…” (Fil 9ss).
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras