XVI Domingo do Tempo Comum
Servos do rebanho e não patrões
Dois grandes temas se encontram: a advertência aos pastores e o convite ao silêncio.
Na primeira leitura de hoje Deus, utilizando a voz do profeta Jeremias, faz uma advertência: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem… Eis que eu irei verificar isso entre vós e castigar a malícia de vossas ações” (Jr 23,1s). Jeremias nota um abandono total, uma grande corrupção religiosa, uma traição à Aliança com Deus. A sua voz torna-se severa. Ele vê a corrupção e prevê a catástrofe. Não esqueçamos nunca que a negação de Deus, mais que mortificar Deus, destrói a dignidade do homem perdendo o senso da própria vida humana. E quando o homem não sabe mais por que vive se abre a estrada para todo tipo de barbaridade. A mensagem é séria e severa.
Jeremias, o profeta da punição social do pecado, nos recorda que é nosso dever intervir, é pecado permanecer neutros e indiferentes; é ato de caridade defender a família, defender a vida, defender os fracos, defender a dignidade do corpo que é expressão da alma.
Mas para viver a força da profecia é necessária uma grande fé. Eis, portanto o segundo convite deste domingo: o silêncio, a oração. São muito atuais as palavras de Jesus: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6,31). Por que Jesus dá importância ao silêncio, ao deserto? Porque o silêncio é necessário na vida para pensar, para tomar consciência do mistério que esta contém. Porque o silêncio é necessário para silenciar o barulho que interfere as grandes interrogações que dão sentido à vida: Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Por que a vida? Só no silêncio o homem encontra as grandes respostas e a vida se salva da banalidade.
O silêncio e a oração não são, portanto, uma fuga da vida, mas uma elevação a Deus. Quanto seria mais bela a vida se déssemos um pouco mais de tempo à oração, despertando dentro de nós a consciência de sermos filhos de Deus.
O silêncio e a oração são também uma escola de fraternidade. Não distanciam do próximo, mas, pelo contrário, aproximam. A pessoa que verdadeiramente ora se encontra com o Deus da fraternidade e, portanto, orando, torna-se capaz de fraternidade.
Também nós somos chamados a fazer esta experiência. Somos um pequeno rebanho imerso em um mundo de indiferença, mas o Mestre nos disse: “Não tenham medo! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Quem crer, entende: aceita o desafio e vence.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras