XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM
A mensagem da parábola deste domingo é clara. Jesus afirma categoricamente: “Muitos dos primeiros serão os últimos e muitos dos últimos serão os primeiros” (Mt 20,16). Coloquemo-nos na humilde escuta do Mestre e deixemo-nos serenamente contestar pela força da Sua Palavra. Jesus apresenta Deus na imagem de um pai de família que chama operários para a sua vinha. Ele chama nas mais diversas horas do dia. O fato é surpreendente e é indubitavelmente entendido no seu significado profundo e provocante. O mais surpreendente é a conclusão. Este originalíssimo vinhateiro, de fato, dá a todos o mesmo salário suscitando surpresa e indignação. Aqueles que foram chamados a trabalhar nas primeiras horas da jornada começam a murmurar contra o patrão e dizem: “Estes últimos trabalharam uma hora só e tu os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor do sol” (Mt 20,12).
Em uma relação de trabalho puramente humano a crítica dos operários seria mais que racional. Mas aqui se trata da relação entre o homem e Deus, onde o que conta não é o tempo do trabalho, mas a resposta de amor ao Amor gratuito de Deus. Jesus, em outras palavras, quer recordar-nos que diante de Deus não existem direitos pelo tempo, mas pela intensidade; diante de Deus não conta a quantidade dos anos de batismo, mas as suas qualidades determinadas pela abertura humilde do coração ao poder salvador do sangue de Cristo.
Jesus nos recorda tudo isto com a sua surpreendente parábola. Recorda-nos que alguém poderá chegar a Deus na última hora da vida e ter o coração melhor que tantos que viveram à sombra do sino e das Igrejas, mas com atitudes medíocres e sem nenhum ardor missionário.
É uma verdade que nos coloca em crise. Para nós que frequentamos a Igreja desde o nascimento, estas palavras de Jesus soam como misericordiosa correção e como convite a verificar continuamente a qualidade do nosso ser cristão.
Como é delicado o estilo de Deus! Mas, ao mesmo tempo, é caracterizado pela insistência do amor. A cada hora Deus retorna e chama. Ele está sempre pronto a acolher-nos, mas não constrange ninguém. Deus espera até o último momento com a paciência da bondade que não se cansa e não se esgota nunca. Temos muito que aprender! Nós às vezes, no apostolado (na missão), corremos o risco de impor o nosso horário a Deus e, sobretudo, de querer impor a Deus uma pressa e uma impaciência que Ele não tem e não quer ter: saber esperar é uma grande caridade.
“Muitos dos primeiros serão os últimos”, ou seja, muitas pessoas que hoje parecem boas serão desmascaradas e aparecerão as suas secretas maldades; e “muitos dos últimos serão os primeiros”, ou seja, muitas pessoas que hoje vivem ignoradas e marginalizadas ou injustamente desprezadas, Deus as chamará aos primeiros lugares no dia da grande verdade.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras