Segundo Domingo da Quaresma
Este é o meu Filho amado! Escutai-o!
A vida de Jesus foi um caminho em direção a Jerusalém, onde a cruz o esperava. Também nós estamos caminhando em direção a Jerusalém e em Jerusalém a cruz nos espera. Muitos, diante deste fato, se bloqueiam. Caem no pessimismo e não vêm sinais de esperança. Jesus conhece bem esta tentação humana e quer preparar os discípulos para vencerem tal situação.
Tomemos o Evangelho: “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a um lugar à parte, sobre uma montanha” (Mt 17,1). Diante deles, Jesus abre a cortina da existência pobre e sofrida que está conduzindo e permite que estes contemplem a divindade. Por que Jesus se comporta assim? Antes de tudo para convidar os apóstolos a confiarem em Deus. Diante de Deus um ato de abandono é pedido a todos. Este ato nós o chamamos de fé.
Concomitantemente Jesus recorda outra decisiva verdade: Apresentando-se na luz da divindade enquanto está andando em direção à cruz, Ele claramente faz entender que Deus também permanece conosco quando caminhamos na paciência, na pobreza e no sofrimento. Existirão provas, tribulações, doenças e morte. Mas quem nele crê, caminha em meio às provas com coragem e confiança: porque Deus é sempre o Vencedor!
Eis a terceira mensagem da transfiguração: chamar a atenção para a eternidade! É a verdade básica da fé cristã. A vida, de fato, não termina aqui. Se o homem esquece isto, a vida sobre a terra torna-se praticamente um inferno. O cenário da vida de hoje é pleno de gente que se cansa e se desencoraja. Lembremo-nos que a vida terrena decide a vida eterna. As riquezas do mundo são para ganhar a riqueza do mundo novo e definitivo.
Os apóstolos viram o paraíso por um momento e ficaram encantados, extasiados.. Entendemos perfeitamente a exclamação de Pedro: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres vou fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias” (Mt 17,4). A verdadeira alegria só Deus pode dar. Também nós, tantas vezes, temos feito a experiência do paraíso. A alegreia do bem feito é alegria do paraíso; a alegria que se prova fazendo um doente sorrir é alegria de paraíso; a alegria que se prova enxugando uma lágrima é alegria de paraíso.
Durante a visão sobre o monte os apóstolos ouviram uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o” (Mt 17,5). Escutar é tão difícil! Escutar significa acolher o outro no próprio coração e na própria vida. Significa acolher Deus, coloncando-se em caminho e deixando-se conduzir por Ele.
Terminada a visão, os apóstolos retornaram à vida de sempre, que é semelhante à nossa vida: feita de generosidade e de egoísmo, de perdão e de rancor, de verdade e de mentira, de humildade e de ambição e, sobretudo, feita de vítimas e de perseguições. É neste meio em que vivemos que Jesus vem ao nosso encontro e torna-se para nós um sinal, uma proposta, uma luz para a vida de hoje. Acreditar nele significa seguí-lo e seguí-lo significa vencer com Ele. Aqui estamos no mundo da pura fé. Mas não se pode entender a vida humana sem a fé.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras