Segundo Domingo do Advento
Deus se envolve na nossa história
No Evangelho de hoje o evangelista Lucas oferece uma série de precisas informações para falar-nos de um Deus que se revela na história dentro de um tempo e de um contexto histórico. Suas palavras nos chamam a atenção para crermos que Deus verdadeiramente veio a este mundo e, portanto, a história é verdadeiramente uma história de salvação porque Deus se envolve em primeira pessoa dentro dos acontecimentos que formam a história humana.
Quem são aqueles que Lucas menciona (Tibério, Pilatos, Herodes…)? Homens tiranos que abusam do poder que têm nas mãos e que são capazes de tudo para manterem-se no poder. É nesta complexa realidade que nasce o Filho do Homem, anunciado por João Batista.
Os detalhes do Evangelho nos permitem uma leitura importante: o quadro cronológico responde a um preciso momento: o ano 27 ou 28 da nossa era. O que significa isto? A fé cristã não foi inventada, não é fruto de fantasia. A fé cristã nasceu de um fato que se impôs: em um preciso dia e um preciso ano Deus entrou de modo pleno na história humana. E daquele momento em diante o mundo passou a ser lido de um modo diferente.
Quanta confiança nasce dessa certeza! O mundo não é só o teatro dos violentos e dos prepotentes. Existe também um Deus que caminha nas estradas e nos acontecimentos da vida humana. Se Deus é “cidadão” da história, por que devemos ter medo?
Porém o evangelista Lucas nos surpreende com uma conclusão. Ao invés de falar de Cristo, ele fala de João Batista. Por quê? Porque a hora de Cristo foi preparada por um homem: o precursor. Sem esta preparação Deus não vem ao mundo. De fato, para encontrar Cristo não é necessário ir longe, mas é preciso olhar as coisas de modo novo. Para encontrar Deus, para poder ver e o encontrar é necessário preparar o coração. A distância entre nós e Ele é uma distância de postura interior.
Por isso retorna o advento! Retorna para nós! Retorna para colocar-nos diante dos olhos a Luz que já existe; retorna para bater a porta da nossa obstinada mediocridade, a fim de que se abra à conversão e à acolhida generosa de Deus.
Se o nosso coração se abre à Luz, nós nos tornamos precursores de Cristo diante da gente que vive “sem Cristo”. Não fechemos o coração ao amor paciente e insistente de um Deus que nos oferece ainda um Advento: um dom para recomeçar.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras