V Domingo do Tempo Comum
Deus não é uma fórmula a se aceitar, mas é uma Pessoa a se amar
A primeira leitura retirada do livro de Jó (7,1-4.6-7) é uma aguda meditação sobre a dor. Um fato é inegável: a vida humana se move dentro de uma realidade de sofrimento e precariedade. O homem pode andar sobre a lua e inventar os computadores, mas, como disse Jó, “A vida é um sopro”, ou – como reconhece o salmo – “Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar” (Sl 103,15.16).
Assim sendo, temos um grande anúncio a fazer: a dor humana derruba a falsa esperança. É preciso levar as pessoas na direção da verdadeira esperança. Mas existe esta esperança? Sim! Chama-se Jesus Cristo. É nele que encontramos Deus, o Deus conosco, um Deus que se comove; um Deus pronto para salvar. Deixemos esquentar o coração e a vida com esta certeza.
No domingo passado vimos Jesus operar na sinagoga de Cafarnaum; hoje, em Marcos 1, 29-39, ele desce da sinagoga e vai à casa de Pedro. Por quê? Porque o espaço de Deus é todo e qualquer lugar: no templo e fora do templo.
Entrando na casa – narra Marcos – “Lhe falaram da sogra de Pedro, que estava acamada e febril. Ele, aproximando-se segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então a febre desapareceu e ela começou a servi-los” (Mc 1,31). Muitas outras pessoas também foram curadas de diversas doenças e dos maus espíritos.
Uma reflexão se impõe. Jesus restitui a saúde, mas o Evangelho claramente faz entender que a saúde não é um bem para si próprio, mas sim, para permitir-nos de servirmos aos outros. Cristo, de fato, dá a saúde à mulher doente não para restituir-lhe uma vida cômoda, mas para que através da saúde ela viva a caridade.
Diz ainda o Evangelho: “E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era” (Mc 1,34). Por que Jesus impõe o silêncio? Evidentemente a fé do demônio é uma fé sem amor: é fé morta. E diante de Deus esta fé não tem nenhum valor. Deus, de fato, não é uma fórmula a se aceitar, mas é uma Pessoa a se amar ao ponto de fazê-lo viver em nós. É assim a nossa fé? Ela produz obra de caridade? Nossa oração nos torna mais caritativos?
Destacamos neste mesmo Evangelho a disposição de Jesus para a oração. Diz o Santo Evangelho: “de madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto” (Mc 1,35). Este detalhe da jornada de Jesus revela profundamente a sua pessoa: a sua jornada não é completa se não parte da oração. Isto é para não nos esquecermos de que a oração é necessária para dar sentido e conteúdo às nossas ações. Jesus nunca negligenciou em dedicar tempo para estar a sós com o Pai. É na oração que encontramos a lucidez da missão e as respostas para as nossas inquietações. Que espaço de tempo reservamos em nossas agendas para o deserto? Para o diálogo com Deus?
É do profundo diálogo com Deus que surge a disposição para comunicar o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Na segunda leitura, da Carta de São Paulo aos Coríntios, nós ouvimos: “Pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (I Cor 9,16). Nós? Acolhemos a caridade de Deus? Vivemos para anunciá-la e transmiti-la aos outros? Busquemos no mais profundo de nosso ser respostas a estas indagações.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras