XVII Domingo do Tempo Comum
Deus multiplica o pão e nós o devemos condividir
A liturgia de hoje apresenta-nos a multiplicação dos pães, narrada por São João. Salientamos que o milagre, segundo o pensamento de Deus, não é um espetáculo de força, não é uma exibição de onipotência. O milagre é um sinal, um sinal de Deus, uma mensagem de Deus: por isso se não há fé verdadeira, Deus não realiza o milagre, porque falta a disponibilidade para acolher a sua mensagem. Se não há fé, é impossível entender o milagre, assim como é impossível ler com os olhos fechados.
Certamente o milagre da multiplicação dos pães revela que Jesus está preocupado também com a fome material do homem. Ele pergunta a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” (Jo 6,5). A intenção de Jesus é clara. Não é verdade, portanto que a fé se preocupa só com o céu; não é verdade que o amor de Deus não tenha nada a ver com o amor ao próximo. O céu se prepara com as obras feitas na terra; e a medida do amor de Deus não está naquilo que dizemos a Deus, mas naquilo que fazemos pelo próximo.
Assim sendo, perguntemo-nos: Podemos estar tranquilos diante do espetáculo do mundo moderno? É legítimo que vivamos no desperdício e que contemporaneamente pessoas morram de fome? É legítimo corrermos em busca do que é supérfluo, quando milhares de pessoas são privadas daquilo que é básico para sobreviverem?
Deus não é indiferente ao problema da fome no mundo. Portanto, também nós não temos o direito de sermos. Então, o que devemos fazer? Sigamos o Evangelho e observemos o comportamento de Jesus.
Ele, antes de realizar o milagre, aceita cinco pães e dois peixes colocados à disposição por um rapaz. Talvez outros também tivessem alguns pães e alguns peixes, mas não colocaram à disposição. Somente aquele rapaz foi capaz de condividir. E Jesus realizou o milagre a partir da generosidade do jovem. Se Jesus realizou o milagre apoiando-se no dom de um jovem, é evidente que, antes de intervir, Deus espera que o homem faça tudo o que está na sua possibilidade.
A onipotência de Deus de fato não poderá nunca intervir a serviço da nossa preguiça e muito menos do nosso egoísmo. Isto significa que se hoje no mundo existem bens suficientes para saciar toda a humanidade, nós temos o santo e religioso dever de trabalhar, sofrer e denunciar a fim de que se crie a cultura da condivisão. Compete-nos, portanto ampliarmos, paralelamente à produção dos bens materiais, a produção da sensibilidade, do empenho e do altruísmo.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras