Liturgia Dominical: “Coragem! Não tenhais medo!”

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XIX Domingo do Tempo Comum

O evangelho de hoje quer tomar-nos pela mão e conduzir-nos a uma renovada profissão de fé junto aos apóstolos, os quais, tendo visto cessar improvisamente o vento que agitava as águas do lago, se prostraram diante de Jesus e exclamaram: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus!” (Mt 14,33). Esta fé é a nossa vitória.

Como podemos reviver a experiência entusiasmante dos apóstolos? Como podemos hoje encontrar Jesus? O evangelista Mateus nos responde narrando-nos um episódio, no qual o chamamento à fé é forte como o vento da Galiléia que sopra sobre a pequena barca dos apóstolos. Para entender o sentido da narração devemos ter presente que esta foi escrita depois da ascensão de Jesus ao céu. Os apóstolos já provavam as primeiras perseguições e encontravam as primeiras dificuldades.

Dirigindo-se àqueles homens que se encontravam assustados por causa da agitação das ondas sobre o barco, Jesus lhes diz: “Coragem! Sou eu, não tenhais medo!” (Mt 14,27). Esta cena se repete constantemente em nossas vidas. Deus está sempre ao nosso lado e nós, porque não o percebemos, gritamos em nosso desespero; Deus está salvando e nós nos lamentamos dele porque não sabemos reconhecer o calor de sua mão que nos conduz. Quantas vezes vemos fantasmas na vida porque as tribulações nos impedem de enxergarmos o Deus vivo e verdadeiro. Mas Ele nos diz: “Coragem! Não tenhais medo!”. Deus, de fato, combate o medo e vem infundir em cada um de nós a segurança de uma presença plena de amor.

No mundo hodierno predomina o medo a tal ponto que, talvez, a nossa época pode ser definida como a época dos grandes medos: medo de si, medo de crescer, medo da solidão, medo da família, medo do sacrifício, medo do empenho, medo da fidelidade, medo da guerra, medo do futuro, medo da novidade, medo de adoecer, medo de morrer! Nós cristãos somos chamados a vencermos o medo em nome da fé. Sozinhos é impossível, mas tudo é possível naquele que nos fortalece.

“Homem de pouca fé” (Mt 14,31). Este homem de pouca fé é cada um de nós (homens e mulheres). Nós, de fato, não somos fáceis de nos convertermos à fé. Sofremos pelos nossos medos, mas continuamos apegados à causa dos nossos medos: a falta de fé.

Observemos o comportamento de Pedro. Ele, quase desconfiando do Senhor, diz: “Se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas” (Mt 14,28). O pedido de Pedro é um pedido absurdo. Esse nasce da dúvida e do medo e busca uma resposta pretensiosa. Não é assim que tantas vezes fazemos? No entanto, vale lembrar que o nosso diálogo com Deus deve ser abandono sereno e invocação da única coisa necessária: “Senhor, venha o teu reino! Seja feita a tua vontade!”.

Provavelmente, contribua para os nossos medos, o fato de não sabermos mais subir a montanha para lá permanecermos e vivermos na paciência o abandono sereno do encontro com o Senhor, como nos propõe o texto de 1 Reis 19,9a.11-13a: “Sai e permanece sobre o monte do Senhor”. São palavras dirigidas ao profeta Elias, mas também se aplicam às nossas práticas cotidianas da fé. Subir ao monte é ser capaz de reservar tempo e buscar no silêncio e na oração os sinais que poderão vir de Deus para compreender as vicissitudes na vida e na história.

Felizes aqueles que permanecendo no monte dão-se conta da presença do Onipotente, pois, nem todos que permanecem no monte, mesmo em atitude orante, são capazes disso, pois lhes falta o discernimento: “Veio um vento impetuoso e forte, mas o Senhor não estava no vento… Houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto… Veio um fogo, mas o Senhor não estava no fogo”. Afinal, como se deu a manifestação de Deus? “Ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isso, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta”. O profeta não tinha mais dúvida, ele estava diante da presença do Senhor.

Em nossas constantes buscas de Deus, é possível que antes da brisa nos venha o vento impetuoso, o terremoto, o fogo, a tempestade… Nestas circunstâncias façamos como Pedro, gritemos, Senhor, salva-me! Façamos como as pessoas que na simplicidade da fé se apegam à Mãe de Nosso Senhor e gritam: “Valei-me Nossa Senhora! Pois acreditamos na sabedoria popular que “quando as portas estão se fechando, ela, a Mãe de Deus, nos abre janelas para que possamos entrar”. Nossa Senhora da Vitória! Cuidai dos vossos filhos, hoje e sempre! Amém!

 

Dom Edilson Soares Nobre

Bispo Diocesano de Oeiras

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