VI Domingo do Tempo Comum
A lepra do corpo e a lepra da alma
O evangelista Mateus narra um episódio no qual Jesus se revela sempre mais. Eis o fato: um leproso se apresenta a Jesus. O que fazer? Como se comportará Jesus? Segundo a prática da época e o que inspira a primeira leitura Jesus deveria dispensar escrupulosamente o leproso, porque a lepra suscitava horror e medo e era considerada uma punição divina.
O que faz Jesus? Segue esta mentalidade? Não! Absolutamente não! Ele infringe o comportamento social e religioso da sua época, porque pra Jesus em primeiro lugar está a pessoa humana e, em qualquer situação, a primeira intervenção é querer o bem. Jamais excluir e marginalizar.
Escreveu um dia Charles de Foucould: “Nós somos todos filhos do Altíssimo! Todos! O mais pobre, o mais repugnante, uma criança, um velho, o ser humano menos inteligente, um idiota, um louco, um pecador, o mais pecador, o mais ignorante, o último dos homens, aquele que repugna moralmente e fisicamente, é um filho de Deus, um filho do Altíssimo”.
Nenhuma doença, nenhum sofrimento, nenhuma desgraça deve tornar-se pretexto para abandonar alguém: a dor do próximo, de fato, deve ser ocasião para amar ainda mais, o espaço para viver a caridade.
Coloquemos o gesto de Jesus no mundo de hoje. Também hoje a lepra existe, e tudo somado, recebe um tratamento muito semelhante àquele condenado por Jesus no seu tempo. A lepra do mundo moderno é, certamente, o egoísmo, o orgulho, a ambição e a prepotência do homem que trazem como consequências a fome e a marginalização.
O gesto de Jesus certamente há uma aplicação muito mais ampla. De fato, não existem somente a lepra e a fome para combatermos. É necessário combatermos também esta mentalidade que marginaliza o ancião, que refuga a criança, que profana a família, que suja a dignidade do amor.
Jesus resistiu à mentalidade dominante no seu tempo. Por que hoje nós cristãos não temos a mesma coragem? Ser cristão significa condividir com Cristo a paixão para salvar o homem, cada homem e cada mulher, das misérias do corpo e, sobretudo, das misérias da alma.
Levemos conosco as palavras do Evangelho de hoje para que estas ressoem bem em nossos ouvidos e em nossos corações: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero: fica curado” (Mc 1,40-41).
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras