Assim como amor, comunidade, fraternidade, esperança, fé… a palavra partilha parece estar se tornado um discurso comum, quem sabe, esvaziado pelo vazio das palavras. Parece não traduzir mais a mística da doação de si. Ora, partilha não pode ser entendido, simplesmente, como gesto de dar, de tirar do bolso, de distribui, de fazer cesta básica…
Partilha é uma atitude; uma atitude de amor! Por ser uma atitude de amor, brota do coração que resolveu doar-se ao extremo da própria vida. Não são, apenas, coisas dadas ou doadas! Antes de tudo e, de qualquer coisa, a própria vida é doada. O modelo é, sempre, Jesus. Ele se dá por inteiro; total! Ele se faz oferta, doação e partilha.
A cruz de Cristo é o ícone da doação total. Todos os seus gestos, palavras, pensamentos, instruções, visitas, curas, sinais, ensinamentos, escuta… são eco do seu amor. “De seu peito aberto jorrou sangue e água…” (Jo 19,34).
Era uma vez… um jovem que estava no centro da cidade, proclamando ter o coração mais belo da região. Uma multidão o cercou e todos admiraram o seu coração. Não havia marca ou qualquer outro defeito.
Todos concordaram que aquele era o coração mais belo que já tinham visto.
O jovem ficou muito orgulhoso do seu coração.
De repente, um velho apareceu diante da multidão e disse:
– “Por que o coração do jovem não é tão bonito quanto o meu?”
A multidão e o jovem olharam para o coração do velho, que estava batendo com vigor, mas tinha muitas cicatrizes. Havia espaços, no coração, em que pedaços tinham sido removidos, e outros pedaços tinham sido colocados no lugar, mas estes não encaixavam direito, causando muitas irregularidades. Em alguns pontos do coração, faltavam pedaços.
O jovem olhou para o coração do velho e disse:
– “O senhor deve estar brincando… Compare nossos corações. O meu está perfeito, intacto e o seu é uma mistura de cicatrizes e buracos!”
– “Sim”, disse o velho. “Olhando o seu coração parece perfeito, mas, eu não trocaria o meu pelo seu. Veja, cada cicatriz representa uma pessoa para a qual eu dei o meu amor. Tirei um pedaço do meu coração e dei para cada uma dessas pessoas. Muitas delas deram-me também um pedaço do próprio coração para que eu colocasse no meu, mas, como os pedaços não eram exatamente iguais, há irregularidades. Mas eu as estimo, porque me fazem lembrar do amor que compartilhamos. Algumas vezes, dei pedaços do meu coração a quem não me retribuiu. Por isso, há buracos. Eles doem. Ficam abertos, lembrando-me do amor que senti por essas pessoas… Um dia espero que elas retribuam, preenchendo esse vazio. E aí, jovem? Agora você entende o que é a verdadeira beleza?”
O jovem ficou calado, e lágrimas escorriam pelo seu rosto.
Ele aproximou-se do velho. Tirou um pedaço do seu perfeito e jovem coração, e ofereceu ao velho, que retribuiu o gesto.
O jovem olhou para o seu coração, não mais perfeito como antes, porém mais belo que nunca.
Os dois se abraçaram e saíram caminhando lado a lado.
Ora, a verdadeira partilha não deixa o coração intacto e indiferente. Pelo contrário. A verdadeira partilha faz jorrar riquezas infindáveis de dentro… do íntimo… do interior mais profundo. Como deve ser triste passar a vida com o coração intacto!
O sangrado-sagrado Coração de Jesus jorrou, com o sangue e a água, vida e salvação. Por isso devemos pedir todos os dias: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!” Assim, não faltarão aos nossos gestos, sejam eles pequenos ou grandes, a verdadeira atitude de partilha que, provem do coração que ama.
Pe. Edivaldo Pereira dos Santos