Eu sou, eu vou!

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Luiz Jean Lauand, professor titular da Faculdade de Educação da USP, num artigo sobre Shakespeare, traz à baila uma discussão muito interessante. “Alguns estudiosos consideram a pergunta fundamental do Hamlet não o famoso ‘to be or not to be’ ou ‘ser ou não ser’, mas, uma sentença aparentemente sem a menor importância, que é, no fundo, a mais essencial. Trata-se da primeiríssima fala da peça… É de noite e, ao aproximar-se para a troca de turno de sentinelas, um dos guardas faz a decisiva pergunta: – ‘Who’s there?’ ou ‘Quem está ai?’. Continua o professor Luiz: “De fato, para Edward Yastion, um notável diretor de Hamlet, ‘Quem está aí?’ é que é a questão e a peça inteira busca responder a ela. O próprio ‘to be or not to be’ remete, afinal, a: ‘Quem sou eu?’. Quem está aí? Quem sou eu? Quem é você? Quem é Fernando Pessoa… ‘Quem sou eu? Quem está aí?’. Aí reside o caráter dramático da condição humana, do ser pessoa do homem.” (http://hottopos.com/geral/jeanwho.htm).

Quem sou eu? Esta pergunta é fundamental e, portanto, obrigatória. Ela é como uma seta no alvo: permite um acerto bem focado na busca de sentido para a própria existência. Não porque dá mais conhecimento sobre si, mas, porque ajuda a fazer o caminho de volta à totalidade do profundamente humano. Ou seja, o “quem sou eu” gera uma inquietude interior que pede luzes sobre o nosso ser no mundo: de onde vim, para onde vou, com quem sou, o que devo fazer; chama, o tempo todo, à autenticidade sobre a vida e missão de cada um; remete à responsabilidade da consciência sobre si mesmo, sob o risco de dissolução, num tempo de perigosa virtualização do ser, insidiosa ideologia de gênero, catastrófica inversão de valores e diabólica banalização da vida.

Para entrar nas revelações e consequências do “quem sou eu”, é preciso muita coragem, ousadia e humildade. Porque não se trata, simplesmente, daquilo que eu quero ser, daquilo que os outros dizem que eu sou ou querem que eu seja, mas, de quem, realmente, eu sou. Vamos aos fatos!

No caminho de Cesaréia de Filipe Jesus dialoga com seus discípulos: “‘Quem dizem os homens que eu sou?’ Eles responderam: ‘Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas.’ Então Jesus perguntou-lhes: ‘E vocês, quem dizem que eu sou?’ Pedro respondeu: ‘Tu és o Messias.’ Então Jesus proibiu severamente que eles falassem a alguém a respeito dele.” (Mc 8,27-30).

Jesus é o Messias e tem consciência disso, por sua intimidade com o Pai. Esta verdade, porém, não é clara aos discípulos. Por isso, o Mestre os proíbe de falar sobre isso, enquanto não entrarem no mistério desta verdade; enquanto não aprenderem as lições deste quem sou eu.

“Em seguida, Jesus começou a ensinar os discípulos, dizendo: ‘O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar depois de três dias.’ E Jesus dizia isso abertamente. Então Pedro levou Jesus para um lado e começou a repreendê-lo. Jesus virou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: ‘Fique longe de mim, satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens’.” (Mc 8,31-33)

Jesus ensina os discípulos: mostra-lhes que tipo de Messias ele é, indica as consequências deste messianismo e o real status de sua vida, vocação e missão. Não demora aparecer a incompreensão dos discípulos e a frustração em suas expectativas. Pedro, então, dando voz ao desencanto geral, é repreendido pelo Senhor e, através dele, Jesus chama a todos para revisitarem o próprio quem sou eu.

Não conseguiremos fugir, por muito tempo, do enfrentamento ao quem sou eu. Ignorar esta senda é uma forma de suicídio existencial e aniquilamento. A fé nos ajuda a entrar, sem disfarces, na resposta cotidiana ao quem sou eu e seus mistérios. Avancemos sem medo. Somos discípulos missionários do Mestre-Messias. Esta verdade nos dá liberdade e assertividade. Assim, não erramos o alvo.

Em Isaias 6,8-9, encontramos o modelo desta liberdade e assertividade: “Ouvi, então, a voz do Senhor que dizia: ‘Quem é que vou enviar? Quem irá de nossa parte?’ Eu respondi: ‘Aqui estou. Envia-me!’ Ele me disse: ‘Vá…’”

 

Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos

 

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