Confira na integra o sermão do Encontro proferido por Dom Edilson Soares Nobre

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  1. O olhar fixo em Jesus (O Bom Jesus dos Passos)

Amados irmãos e irmãs, em Nosso Senhor Jesus Cristo! Este evento que ora estamos celebrando, com fé, piedade e devoção nos remete à origem da nossa Igreja e nos faz mergulhar no mais profundo mistério da entrega de Deus que se encarnando, ofereceu  sua vida, submetendo-a ao suplício e à mais amarga dor, uma dor tamanha, tremenda, injusta e cruel, como consequência da maldade dos homens, mas, pela sua dolorosa paixão e morte de cruz, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bom Jesus dos Passos, garantiu a salvação à humanidade. Ele já havia dito: “O Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens, e eles o matarão, mas ao terceiro dia ressuscitará” (Mt 17,22). Cremos nisso, meus irmãos? Esta tarde nos convida a fixarmos o nosso olhar na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e a percorrermos com Ele o caminho do Calvário, carregando também a nossa cruz; Cruz que cura, liberta, purifica e salva. Associemos ao sofrimento de Cristo, os nossos sofrimentos, os sofrimentos da humanidade, as vítimas da guerra, da fome e da peste, da violência e de tantos males que a sociedade nos impõe. O que dói em nós? O que nos inquieta? O que nos faz sofrer? Qual é a nossa cruz?

“Oh vós, oh vós! Vós que por aqui passais, olhai ,dizei, quem neste mundo sofreu mais”

Meus irmãos e minhas irmãs! Este Jesus que nós o contemplamos, com  semblante de sofrimento e dor, vítima de escárnios e humilhações, de injustiças e de maus-tratos,  permite-nos, com o olhar da nossa fé, enxergar a sua Vitória. Vejam que, não obstante o peso da cruz e o sofrimento, percebemos em seu rosto a fisionomia da serenidade, como sinal de confiança do Filho nas promessas do Pai. Assim também deve acontecer conosco, nunca desconfiarmos da providência Divina. Devemos acreditar na Vitória de todo inocente, vítima da maldade, arquitetada por homens inescrupulosos que não temem a Deus e que ignoram o seu projeto de amor.

  1. O olhar fixo em Maria, a Mãe das Dores

“Pela Virgem Dolorosa, nossa Mãe tão piedosa! Perdoai-me, meu Jesus, Perdoai-me, meu Jesus”.

Senhora das Dores, Mãe de Jesus Crucificado, o Teu coração foi traspassado como o do Teu Filho Bem-Amado. Já o velho Simeão profetizava no dia em que apresentavas o Teu Jesus no templo: “Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação para muitos em Israel…. Quanto a ti, uma espada há de atravessar-te a alma” (Lc 2, 25-35).

De fato, a espada traspassou o coração de Nossa Senhora, e não foi somente uma vez. Ao menos, sete dores foram experimentadas por Maria, como nos lembram as Escrituras Sagradas:

1ª Dor: Pela dor que sofrestes, oh Mãe, ao ouvir a profecia de Simeão, de que uma espada traspassaria o vosso Coração. Mãe de Deus! Olhai para estes teus filhos aqui reunidos e acalentai o coração de todos os que sentem traspassar a espada do sofrimento em suas vidas… Ave Maria…

2ª Dor: Pela dor que sofrestes, oh Mãe, quando fugistes para o Egito, apertando ao peito virginal o Menino Jesus, para salvar das fúrias do ímpio Herodes, olhai para as mães de hoje que sentem o aperto e as dificuldades para garantir a vida e o futuro de seus filhos e tende misericórdia daquelas que na fraqueza, na ignorância ou por egoísmo não preservaram a vida de seus filhos… Ave Maria…

3ª Dor: Pela dor que sofrestes quando da perda do Menino Jesus por três dias, olhai para as mães que perdem os seus filhos, na maioria das vezes para as drogas, para a prostituição e em consequência da violência… Ave Maria…

4ª Dor: Pela dor que sofrestes quando vistes o Teu Filho e nosso Salvador com a Cruz ao ombro, a caminho do calvário… Quantas cruzes, quantas dores, quantos sofrimentos também carregamos em nossas vidas… Ave Maria…

5ª Dor: Pela dor que sofrestes quando assististes à morte de Jesus, crucificado entre dois ladrões… Quantos filhos deste imenso país, Oh Mãe, que também morrem à míngua, crucificados em consequência da corrupção de alguns gestores que não têm pudor e desviam o dinheiro público que deveria sem empregado em saúde, educação, saneamento, básico, cultura, segurança e políticas públicas… Ave Maria…

6ª Dor: Pela dor que sofrestes quando recebestes em vossos braços o corpo inanimado de Jesus, descido da Cruz… Não são poucos, mães e pais, que rebem em suas casas os filhos sem vida, vítimas de acidentes, de assaltos, do tráfico e da violência… Ave Maria…

7ª Dor: Pela dor que sofrestes quando o Corpo de Jesus foi depositado no sepulcro, ficando vós, na mais triste solidão… É a dor da partida, experiência dolorosa que sofremos cada vez que enterramos nossos entes queridos. Deixemos aflorar a nossa memória e apresentemos a Deus, através de Nossa Senhora, os parentes e amigos que fizeram parte de nosso convívio e que hoje se encontram na casa do Pai… Ave Maria…

Viveste esta profecia na Fé e no Amor. Por isso, oh Mãe, nós nos unimos à dor do Teu coração e pedimos pela salvação de todos aqueles que se afastaram de Jesus.

  1. O Encontro que gera a vida

O Papa Francisco tem insistido veementemente na promoção da cultura do encontro. Na sua Encíclica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), ele sinalizou que o encontro é lugar, por excelência, para anunciar a alegria do Evangelho. Nesse sentido, aquilo que compreendemos por evangelização ultrapassa qualquer doutrinação por meio de catecismos! Precisamente, ela é escuta, diálogo, gesto e anúncio da pessoa de Jesus. E isso se dá, primordialmente, no encontro das alteridades. Desse modo é que há sentido para se falar numa Igreja em saída, em cristãos e cristãs desacomodados, em pessoas que não temem ir ao encontro do outro, para ouvi-lo e acolhê-lo.

As pessoas que vivem em lugares interioranos, onde a vida é acompanhada pelo rito do tempo que não “devora” seus filhos, ainda sabem experimentar bem o encontro com o outro. Encontram-se na capela para uma liturgia; encontram-se na praça para uma quermesse ou para um bate-papo; encontram-se nos velórios e sepultamentos dos queridos e dos vizinhos; encontram-se nas casas, para as rezas das novenas e do terço;  etc. E o encontro é marcado pelo reconhecimento; pelos olhos nos olhos; pela história que o outro carrega; pelo nome, que identifica e pessoaliza aquele com o qual se encontra.

O anonimato é uma das formas mais cruéis de exclusão. E isso acabou se tornando um costume em grandes cidades, em grandes centros urbanos. A velocidade da vida e a correria do dia a dia invisibilizou pessoas, tornando-as anônimas. Nestes lugares não há espaço para o reconhecimento e nem para o encontro. As pessoas são frias, mudas, não se olham e nem se cumprimentam. Ouvir um “bom dia!” é quase uma experiência extraterrestre. Gestos de gentileza são sepultados nas profundezas de uma cidade de concreto, que nunca desacelera para permitir que as pessoas se encontrem e se reconheçam.

Jesus nos ensina a urgência de irmos ao outro, para comunicar-lhes a Boa Notícia do Reino. Precisamente, foi assim que ele viveu, encontrando-se com cada pessoa da qual se aproximava. A cultura do encontro é, antes de tudo, sair ao encontro do outro. Por isso, o Papa Francisco insiste que os cristãos e cristãs devem ser gente de saída, sem desânimo e não acomodada. Porque o encontro é epifania de algo maior, é a manifestação de uma realidade salvífica.

Dito isto! Vamos, então, neste momento, acompanhar a representação de um encontro que se dá através destas duas imagens. Um encontro que gera vida: O Bom Jesus dos Passos e nossa Mãe Maria Santíssima, a Senhora das Dores, que sofre a amargura ao ver o seu Filho escarniado e desfigurado, carregando o peso da cruz e tomando para si os sofrimentos da humanidade. Um encontro que causa dor, mas que gera vida, pois Deus nos permite transcender toda essa realidade cruenta para enxergarmos a Vitória da vida sobre a morte, do bem sobre o mal, da justiça sobre a injustiça, da luz sobre as trevas.

Vem, oh Maria, vem ao encontro de Teu Filho Jesus, enxuga as suas lágrimas com o lenço do teu amor materno; assim como as lágrimas deste povo aqui reunido, que traz consigo a sua história, as suas angústias, sofrimentos, dores, amarguras e desânimos, e reacende em todos nós a chama da fé, do amor e da esperança, para que a alegria do Evangelho seja impregnada, arraigada em nossos corações e em nossas vidas. Amém!

Oeiras, 07 de abril de 2017.

Dom Edilson Soares Nobre

Bispo de Oeiras

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