A terceirização de serviços é uma invenção da economia moderna que trouxe novas possibilidades para o mercado de trabalho, ampliando o rol de pessoas remuneradas, fora da informalidade. Essa é parte boa. Mas esse engenho não é pura bondade, é um artifício bem estudado porque, por trás dessa invenção está a transferência de responsabilidades porque, o setor de serviço, além dos pesados impostos, também tem que arcar com a responsabilidade social do empregado. Assim, quem contrata serviços, paga despesas, mas não arca com a responsabilidade direta com funcionários e o ônus próprio do setor, diante das questões trabalhistas.
O que acontece no mundo do trabalho verifica-se, também, nas relações humanas cotidianas, quanto à criação dos filhos, a orientação dos valores, a educação para a vida, a correção dos hábitos e costumes, os pequenos e grandes cuidados nas diversas situações limites… está havendo uma massiva terceirização das responsabilidades e a (in)conseqüente culpabilização dos outros, diante das diversas circunstâncias, problemas e dificuldades.
Em nível pessoal, a tendência a terceirizar responsabilidades é o costume e a prática da vitimização, da autoculpabilização, da síndrome de coitadinho e da justificativa para tudo.
O profeta Ezequiel, no capítulo 18 retoma, com veemência, a necessidade de consideramos tudo o que vivemos e fazemos sob a ótica da responsabilidade, sem terceirizações e disfarces.
Recebi a seguinte mensagem de Javé: “Que sentido tem para vocês este ditado que se repete na terra de Israel: ‘Os pais comeram uva verde, e a boca dos filhos ficou amarrada’? Juro por minha vida – oráculo do Senhor Javé – que vocês não vão repetir mais esse ditado em Israel. Todas as vidas são minhas, tanto a vida do pai como a vida do filho. O indivíduo que pecar, esse é que deverá morrer.
Se o indivíduo é justo e pratica o direito e a justiça; (…) se é um indivíduo que não explora ninguém, mas devolve o penhor de uma dívida; que não rouba de ninguém, mas dá o seu pão a quem tem fome e veste quem não tem roupa; que não empresta com usura, nem cobra juros; que evita praticar a injustiça e procura fazer um julgamento justo entre as pessoas; o indivíduo que age de acordo com os meus estatutos, que guarda as minhas normas, praticando corretamente a verdade, esse indivíduo é justo, e certamente permanecerá vivo – oráculo do Senhor Javé.
Contudo, se esse indivíduo tiver um filho violento e assassino ou que pratica alguma dessas coisas, mesmo que o pai não faça nada disso; mas ele come sobre os montes; desonra a mulher do seu próximo; explora o pobre e o indigente; rouba e não devolve o penhor; adora ídolos imundos e comete abominação; empresta com usura e cobra juros, é claro que não permanecerá vivo por ter praticado todas essas abominações: ele certamente morrerá e será responsável por seus próprios crimes.
Acontece, porém, que esse indivíduo tem um filho que vê tudo de errado que o seu pai faz. Ele vê, mas não faz igual: não come sobre os montes; não adora os ídolos imundos da casa de Israel; não desonra a mulher do próximo; não explora ninguém; não exige penhor; não rouba, mas dá seu pão a quem tem fome e veste quem está sem roupa; evita praticar injustiça; não aceita usura nem cobra juros; observa as minhas normas e age segundo os meus estatutos, esse indivíduo não vai morrer por causa dos pecados do seu pai; pelo contrário, permanecerá vivo. O pai dele, que praticou a violência, que roubou e maltratou o seu povo, este sim deverá morrer por causa do seu próprio pecado (Ez 18,1-18).
Quem busca assumir a própria vida, com as exigências e responsabilidades que ela impõe, não fracassa diante das lutas. Pelo contrário, enche-se da paz de espírito, da serenidade, da ousadia e da força que garante, justifica e confirma todo o investimento humano, na busca de si mesmo.
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos santos
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