O tempo passa ligeiro, ligeiro. Quase não somos capazes de perceber. A não ser quando acontece algo desagradável, triste ou trágico. Nesse caso, o tempo parece não ter fim. Tudo fica mais demorado e pesado. Temos a sensação de que não vai passar; que vai perdurar para a vida toda, aquele pequeno instante. Até mesmo a vida parece não valer mais a pena, a não ter mais sentido. Chega o desânimo os joelhos não se curvam para a oração; as mãos não se levantam para agradecer; os pés não se movimentam para frente; o corpo todo é tomado por um grande enfraquecimento.
Mas, com as coisas boas, com os acontecimentos bons, o tempo vira um flash. Tudo é dentro de um piscar de olhos; um estalar de dedos. O tempo, simplesmente, foge; escapa de nós. Nesse sentido, por mais que a gente viva um momento, ou os anos, tudo parece pouco demais.
No livro de Jó encontramos a seguinte reflexão:
“O homem vive na terra cumprindo um serviço militar, e seus dias são como os do diarista: tal e qual um escravo, ele suspira pela sombra e, como o diarista, espera pelo seu salário. Assim, a minha herança são meses de ilusão, e a mim couberam noites de fadiga. Ao me deitar, fico pensando: ‘Quando me levantarei?’ A noite é muito longa, e me canso de ficar rolando na cama até a aurora. Meus dias correm velozes como a lançadeira, e se consomem sem qualquer esperança. Lembra-te! A minha vida é um sopro, e os meus olhos nunca mais verão a felicidade” (Jó 7,1-4.6-7).
A nossa situação, diante da vida e dos acontecimentos, é de uma permanente tensão que parece beirar a contradição. Mas, não! Não é contradição. Acontece que, toda a nossa vida, o tempo todo, está balançada por uma existência marcada por susceptibilidades. Isso significa que, nessa vida, curta como ela só, vivenciamos situações para as quais não estamos preparados; demoras com as quais não temos paciência; dores que não são sanadas; sofrimentos que não terão consolo; desafios que ficarão sem resposta… e muitos outros confrontos. E daí!? É só uma pessoa, no mundo, que está entregue as vicissitudes da vida? Não! Não são uns poucos privilegiados, lascados ou esquecidos por Deus que estão sob graças ou reviravoltas. Todos nós estamos no mesmo barco da existência humana e, por isso, susceptíveis a tudo o que diz respeito aos humanos em sua vida breve sobre a terra, queiramos ou não.
Nossa humanidade é porta aberta para um cotidiano com suas surpresas, seus bens e seus males. A vida não é contraditória. Contradição, sim, é deixar a vida correr…
Não controlamos o tempo e não temos uma bola de cristal para podermos dominar os acontecimentos. Mas, podemos fazer algo em relação a isso. Precisamos viver e assumir a vida como ela. Simples assim? Não! Completo assim!
O cantor e compositor, Gonzaguinha tem uma letra, para uma música, que é uma verdadeira profecia: O que é, o que é?
“Eu fico com a pureza da resposta das crianças: e a vida, é bonita e é bonita!
Viver! E não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Ah meu Deus! Eu sei, eu sei que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita!
E a vida!? E a vida o que é? Diga lá, meu irmão. Ela é a batida de um coração. Ela é uma doce ilusão. E a vida!? Ela é maravilha ou é sofrimento? Ela é alegria ou lamento? O que é? O que é, meu irmão? Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo. É uma gota, é um tempo que nem dá um segundo. Há quem fale que é um divino Mistério profundo. É o sopro do criador, numa atitude repleta de amor. Você diz que é luta e prazer. Ele diz que a vida é viver. Ela diz que melhor é morrer, pois amada não é. E o verbo é sofrer. Eu só sei que confio na moça. E, na moça eu ponho a força da fé. Somos nós que fazemos a vida. Como der, ou puder, ou quiser; sempre desejada, por mais que esteja errada. Ninguém quer a morte, só saúde e sorte. E a pergunta roda. E a cabeça agita. Eu fico com a pureza da resposta das crianças: é a vida, é bonita e é bonita!”