Embora nos esforcemos para ver as coisas com maior largueza de tempo, de espaço, de profundidade, de sentido e de valor, nós somos de momento; nossa visão é curta; nosso pensamento é estreito; nosso desejo é prazenteiro e nossa vontade é insaciável.
Na maior parte das vezes, temos nossas decisões, atitudes e comportamentos marcados pelo imediatismo, pela pressa, pela correria, pela urgência! Parece haver um medo, incutido em nós, de não dar tempo de fazer tudo, de comer tudo, de ver tudo, de receber tudo, de sentir tudo… então apressamos as coisas e, caímos na ditadura do agora.
O que vemos de imediatismo em nós é reflexo de uma cultura do imediatismo, do passageiro, do urgente, do aqui-e-agora. Isso, evidentemente, com a trágica consequência de outros males agregados: o hedonismo, o individualismo, o liberalismo, o consumismo, a banalização da violência, do sexo, do poder e da fé. Uma verdadeira a tóxicopatia social.
A vontade humana é insaciável. Em tese, isso empurraria uma pessoa pra frente, inspirando a sua vida contra todo o imobilismo, passividade, comodismo e indiferença a favor da realização pessoal, familiar, comunitária e social. Que beleza! Mas, esta vontade insaciável está se tornando, cada vez mais, insana, doentia e, portanto, nociva e perigosa. Por conseguinte, a pessoa humana está doente e em perigo.
O que fazer, então, com a adoentada vontade humana?
A vontade humana precisa de cura; precisa voltar a ser humana; precisa ser regada pela Vontade de Deus!
A cura da vontade humana.
A cultura do imediatismo sobrevive de pessoas vazias e esvaziadas pela a autossuficiência e que, permanecem isoladas na secura do individualismo. Nesse sentido, quanto mais afirma suas vontades mais adoece longe de tudo e de todos. A cura da vontade está, exatamente, aonde parecia haver o maior perigo contra a realização individual: o outro. Trata-se da redescoberta e valorização da amizade, da família, dos companheiros e da comunidade de fé. É a mística da alteridade.
A humanização da vontade humana.
O medo torna tudo irracional: as reações, os gestos, as atitudes, os pensamentos, os comportamentos, as intenções. O medo desumaniza e, por isso, fere e mata. O medo faz supor e pressupor. O medo determina a postura autodefensiva de ataque. Contra o medo só a confiança e autoconfiança. A cultura do imediatismo não suporta pessoas confiantes e bem resolvidas, seguras e determinadas, simples e humildes. É a mística da paz.
Regados pela Vontade de Deus.
A semente plantada precisa ser cultivada. Isso implica cuidados anteriores com a terra: arar, preparar, adubar. Isso exige cuidados com o ciclo da semente na terra: regar, limpar, proteger, podar… até colher. Se não for cultivada, a semente não se converte em frutos bons para a vida. Da mesma forma, a vontade humana, se não for cultivada não se converte em frutos bons para a vida. Ora, o que acontece é que deixamos a nossa vontade ao sabor do prazer a todo custo. E, regados por isso, nos tornamos inconsequentes na pretendida busca de autorealização e, invés de gestar a vida, gestamos a morte.
Somente a Vontade de Deus é sábia porque, tem na felicidade e, não no prazer, o sentido da plena realização humana. A felicidade, segundo a Sagrada Escritura, deve ser a busca fundamental do ser humano e consiste na seguinte postura de fé e vida: “…não fiquem preocupados, dizendo: O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir? Os pagãos é que ficam procurando essas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Pelo contrário, em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas. Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade” (Mt 6,31-34). É a mística da felicidade.
Nisso consiste a conversão da vontade!
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos