De acordo com a Sagrada Escritura, o ser humano é a obra prima de Deus porque, em relação a toda obra criada, somente o homem recebeu o influxo do Espírito de Deus: “Então Javé Deus modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente” (Gn 2,7).
Bem por isso, segundo as palavras de Paulo, no Areópago, Somos da raça de Deus: “De um só homem, ele fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, tendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites de sua habitação. Assim fez, para que buscassem a Deus e para ver se o descobririam, ainda que fosse às apalpadelas. Ele não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos movemos e existimos (…) ‘Somos da raça do próprio Deus’.” (At 17,26-28).
De fato, uma vez que o Espírito de Deus mora em nós, somos da raça de Deus.
Ora, se o Espírito de Deus mora em nós, deveríamos realizar as obras do Espírito. Mas, o que vemos o tempo todo e em todo lugar? Vemos o ser humano que, é habitado por Deus, agindo, vivendo e sendo movido pelo espírito do mundo. E, outra vez, São Paulo exorta-nos: Não extingam o Espírito! (1 Ts 5,19). Isto é: não se desumanizem! Não se neguem! Não se destruam! Não se aniquilem…!
Somos chamados a viver segundo o Espírito no qual fomos criados e, agora, dentro do Mistério de Cristo morto e ressuscitado, o apelo é que tenhamos vida nova no Espírito: “…os que vivem segundo os instintos egoístas não podem agradar a Deus. Uma vez que o Espírito de Deus habita em vocês, vocês já não estão sob o domínio dos instintos egoístas, mas sob o Espírito, pois quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a ele. Se Cristo está em vocês, o corpo está morto por causa do pecado, e o Espírito é vida por causa da justiça. Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou Cristo dos mortos dará a vida também para os corpos mortais de vocês, por meio do seu Espírito que habita em vocês. Portanto, irmãos, nós somos devedores, mas não dos instintos egoístas para vivermos de acordo com eles. Se vocês vivem segundo os instintos egoístas, vocês morrerão; mas se com a ajuda do Espírito fazem morrer as obras do corpo, vocês viverão” (Rm 8,8-13).
A vida nova no espírito requer conversão de mentalidade, hábitos, costumes e práticas. Mas, como a conversão vai se realizar em nós se vivemos acuados e dominados pelos instintos egoístas?
Sem a graça de Deus não há vida, não há vida nova, não há conversão. Por isso, mesmo não agindo sob o Espírito de Deus; mesmo renegando-o com nossos atos e atitudes, Deus não desiste de nós. Pelo contrário Ele sobrevive às nossas demoras e age recriando-nos, conforme o profeta Ezequiel: “Assim diz o Senhor Javé: ‘Vou abrir seus túmulos, tirar vocês de seus túmulos, povo meu, e vou levá-los para a terra de Israel. Povo meu, vocês ficarão sabendo que eu sou Javé, quando eu abrir seus túmulos, e de seus túmulos eu tirar vocês. Colocarei em vocês o meu espírito, e vocês reviverão. Eu os colocarei em sua própria terra, e vocês ficarão sabendo que eu, Javé, digo e faço – oráculo de Javé’.” (Ez 37,12-14).
Voltemos à originalidade da obra de Deus. Somos obra prima de suas mãos e do seu Espírito. Deixemo-nos guiar por Deus. Não deixemos que se extinga o Espírito em nós. Deixemos Deus soprar porque, “Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. E vocês não receberam um Espírito de escravos para recair no medo, mas receberam um Espírito de filhos adotivos, por meio do qual clamamos: Abba! Pai! O próprio Espírito assegura ao nosso espírito que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus, herdeiros junto com Cristo, uma vez que, tendo participado dos seus sofrimentos, também participaremos da sua glória” (Rm 8,14-17).
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos
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