HOMILIA POR OCASIÃO DOS 80 ANOS DA DIOCESE DE OEIRAS

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“Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?
Quis a Providência Divina que nos reuníssemos hoje, aqui, nesta Praça, diante da amada Catedral de Nossa Senhora da Vitória, nesta data, sete de outubro de 2025, dia da Virgem do Rosário, para celebrarmos os 80 anos de instalação de nossa estimada Diocese de Oeiras.
Nossa Igreja diocesana foi criada pelo Papa Pio XII, em 16 de dezembro de 1944, através da bula “Ad Dominici Gregis Bonum”, título em língua latina que traduzido significa “para o bem do rebanho do Senhor”. No entanto, a sua instalação se deu somente no dia 07 de outubro do ano seguinte. Junto à diocese de Oeiras, também foi criada, pela mesma bula, nossa Igreja irmã, a diocese de Parnaíba, sob o patrocínio de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça.
A diocese de Oeiras nasce com uma extensão territorial de 84.000 Km², abrangendo todo território central do Estado do Piauí. No percurso do tempo, graças à fé inquebrantável deste povo, da resiliência e da fidelidade ao Evangelho e ao Magistério da Igreja, os frutos são colhidos, a diocese se desenvolve e gera duas novas dioceses: A diocese de Picos, em 1975, no pontificado do Papa Paulo VI, sob o patrocínio de Nossa Senhora dos Remédios e, posteriormente, em 2008, nasce a diocese de Floriano, sob o patrocínio de São Pedro d’Alcântara, no pontificado do Papa Bento XVI. Duas circunscrições que nascem e crescem na graça, na sabedoria, no amor, em população e na ação pastoral e missionária.
Após o desmembramento das duas dioceses, nossa circunscrição agora cobre 19.086 km² e abrange 21 municípios do Vale do Canindé, com cerca de 140 mil habitantes.
As raízes da história.
Permitam-me viajar um pouco no tempo para resgatar a história. Não se cria uma diocese do nada, sem que as sementes do Evangelho não tenham sido plantadas. Celebrar os 80 anos desta diocese nos remete a um tempo remoto e permite-nos fixar o olhar sobre a honrosa tradição histórica e cristã desta cidade, primeira capital do Piauí, cujas raízes remetem ao ano de 1697, quando esta é constituída “Freguesia”, dedicada a Nossa Senhora da Vitória. Assim sendo, a semente do Evangelho já vinha sendo plantada há 328 anos. Portanto, os 80 anos de criação da diocese não coincidem com o tempo da ação evangelizadora da Igreja neste chão, pois, suas raízes temporais ultrapassam a linha temporal dos 80 anos.
Destacamos, no entanto, que a criação de uma diocese tem uma importância imprescindível. É através deste ato, que a Igreja Católica garante a presença de um bispo.
Entender a estrutura de uma diocese e as razões de sua existência nos ajuda a valorizar a complexidade e a riqueza da organização eclesiástica, e promove uma visão mais aprofundada sobre a importância dessas unidades na vida religiosa, social e cultural das comunidades.
Diocese é a forma como a Igreja se organiza pastoral e territorialmente em todo o mundo. Também chamada de Igreja Particular, é uma comunidade eclesial que se organiza em plena comunhão com Roma. O Código de Direito Canónico refere-se às Igrejas particulares como sendo as unidades “nas quais e das quais existe a una e única Igreja Católica”.
Para cada Diocese é nomeado um bispo. O bispo é um sinal visível da unidade da Igreja. Ele representa a comunhão entre as diferentes paróquias e comunidades da diocese, e é responsável, junto ao seu presbitério, por promover a colaboração, a solidariedade e a corresponsabilidade entre elas.
Considerado sucessor dos apóstolos, o bispo é responsável por ensinar, governar e santificar o povo de Deus. Sua principal missão é guiar os fiéis no caminho da salvação e defender a doutrina da Igreja contra heresias e desvios, garantir a continuidade da sucessão apostólica. Essa sucessão apostólica garante a continuidade da autoridade, que não se confunde com autoritarismo, e da graça sacramental na Igreja. Além disso, cabe ao bispo e o seu presbitério promover a justiça social e a defesa dos direitos dos mais vulneráveis, conforme nos ensina o nosso Mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).
No curso destes 80 anos, sete bispos por aqui passaram e deixaram suas marcas. O jovem Jeremias Santos, escreveu uma bela poesia intitulada “Memória e Profecia: 80 anos da diocese de Oeiras”. Eu faço aqui um recorte do que ele escreveu, mencionando os prelados que por aqui passaram, fazendo um link com o lema episcopal de cada um:
“O tempo passou, mas cada tempo deixou sua marca.
Dom Expedito veio restaurar tudo em Cristo,
como quem reconstrói o coração de uma gente.
Dom Raimundo passou breve,
mas deixou Maria como caminho seguro. (A Jesus por Maria)
Dom Edilberto, estrangeiro vindo de longe,
fez-se raiz no sertão e amou até o fim.
Mais de três décadas de cuidado,
em que sua voz se confundiu com a voz do povo. (Amou-os até o fim)
Dom Fernando ergueu os corações,
ensinou que o alto é o lugar da esperança. (Corações ao alto)
Dom Augusto firmou a diocese na fé,
como pedra viva sobre pedra antiga. (Firmes na fé)
Dom Juarez trouxe o sopro da vida em abundância,
fez da Igreja mesa aberta para todos. (Para que todos tenham vida)
E Dom Edilson, hoje, guia este rebanho,
lembrando que em tudo a caridade deve ser o norte,
em tudo a caridade deve ser a forma,
em tudo a caridade deve ser a medida”. (Em tudo a caridade)
Isto é a história que estamos celebrando; impulsionada pela liderança dos sucessores dos apóstolos, com a participação corresponsável dos ministros ordenados, religiosas, religiosos e leigos, vai se construindo um caminho sinodal, na perspectiva da comunhão, da participação e da missão.
Louvemos a Deus por todos os homens e mulheres que no passado e no presente, pela vida, pela entrega e pelo testemunho de fé, ajudaram e ajudam a construir a história, evangelizando, atendendo ao chamado do Senhor: “Ide, pois, fazei discípulos todos os povos, batizando-os, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Retomo outro trecho da poesia do Jeremias, pois, ela me parece bastante sugestiva para justificar as razões deste nosso encontro:
“Nestes oitenta anos, o que se celebra não é apenas uma linha no calendário. Celebra-se o chão tocado por pés descalços em procissões.
Celebra-se a noite iluminada pelo Fogaréu,
fogueiras de tochas que atravessam gerações,
onde Cristo é buscado na escuridão e encontrado na luz.
Celebra-se o ventre da Catedral de Nossa Senhora da Vitória,
mãe silenciosa que acolheu lágrimas e cantos,
orações de súplica e louvores de gratidão.
Nela ressoaram os sinos que chamaram o povo,
nela repousa a história de oitenta anos de fidelidade.
Celebra-se a fé que não se dobra diante da seca,
a esperança que resiste às pedras do caminho,
a caridade que floresce mesmo no chão árido do sertão.
Porque a Diocese de Oeiras é também pão partilhado,
é também criança alimentada,
é também mão estendida ao pobre”.
Queridos diocesanos! Irmãos e irmãs! Aproveito a ocasião, para vos interpelar: “Não sejais lentos na solicitude, sede fervorosos no espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres na esperança, fortes na tribulação, perseverantes na oração” (Rm 12,11-12).

A primeira leitura de hoje (At 1,12-14), é bastante sugestiva: apresenta-nos a comunidade primitiva como modelo de comunidade que persevera na oração. Ali encontravam-se os Apóstolos e algumas mulheres, entre elas, Maria, a mãe de Jesus Cristo e nossa Mãe. Este texto é significativo e oportuno para nós, pois, possibilita-nos penetrarmos nas raízes mais profundas de nossa fé, que nos dão uma base segura e sólida, para não nos perdermos nas estradas da vida, com propostas ilusórias e distrações que nos desviam da verdadeira e autêntica fé.
Na segunda leitura (I Cor 3,9c-11.16-17), São Paulo nos lembra que somos construção de Deus. Construção indica uma obra inacabada, em processo de aperfeiçoamento. E esta obra deve ser firmada sobre Cristo, que é o nosso alicerce. Paulo nos indaga: “acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?”. Portanto, são palavras oportunas que servem de base para a nossa fé e o nosso discipulado, no seguimento do Divino Mestre.
Concluo voltando o olhar para nossa Mãe, Maria Santíssima. Ela é a Mãe de Deus e Mãe da Igreja. É nossa intercessora junto a Jesus; mulher virtuosa que nos ensina a ser humildes e obedientes. Entre nós ela brilha com o título de Nossa Senhora da Vitória, padroeira desta diocese e padroeira do Piauí. A oração que a ela dirijo, é a mesma que vínhamos fazendo, neste tempo preparatório para o Jubileu:
“Ó Senhora da Vitória, padroeira e advogada nossa, vos pedimos: protegei-nos sempre de todos os males. Sob o vosso olhar amoroso, instruí-nos a ser neste mundo um sinal do Reino de Deus, a ser Igreja peregrina e samaritana, que vislumbra aqui na terra o caminho da pátria definitiva! Amém!”

Dom Edilson Soares Nobre

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