Reflexão de Dom Edilson Nobre na Assunção de Nossa Senhora

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Assunção de Nossa Senhora e Festa de Nossa Senhora da Vitória

“Virgem da Vitória, Mãe da Igreja Sinodal, peregrina da esperança”

 

Celebramos hoje a Solenidade da Assunção da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria. Aquela que disse sim ao Deus da vida e proclamou as suas maravilhas foi elevada ao céu em corpo e alma. A Festa da Assunção de Nossa Senhora é um convite a olhar de longe e a olhar do alto. A vida humana não se esgota aqui neste mundo, mas há um desenvolvimento e um complemento maravilhoso além do cenário frágil da experiência quotidiana.

Maria assunta ao céu é nossa Mãezinha querida, invocada por nós com outro título muito especial, especialíssimo: Nossa Senhora da Vitória. Ela é nossa Mãe, Mãe da Igreja Sinodal, Peregrina de Esperança. Com ela, aprendemos verdadeiramente a ser Igreja que caminha em espírito de comunhão, participação e missão. Este modo de ser Igreja nos torna Igreja sinodal. Com ela aprendemos a peregrinar com o coração cheio de alegria e esperança; uma esperança que não decepciona.

Nos ensina o Papa Francisco, “a esperança tem um rosto”. Sim, frequentemente, em suas mensagens, ele associava a esperança a um rosto, referindo-se a Jesus Cristo Ressuscitado como o rosto da esperança. Ele enfatiza que a esperança não é apenas uma abstração. Mas alguém, uma pessoa, e essa pessoa é Jesus Cristo.

Em suas mensagens, ele nos encoraja a olhar para a esperança através dos olhos de Jesus, o “autor da esperança”. Ele também destaca a importância de buscar a esperança em situações difíceis e de praticar a esperança no dia a dia, não apenas como algo a ser aguardado no futuro, mas como uma força presente que nos move.

O Papa Leão XIV, mesmo tendo poucos dias de seu pontificado, já nos interpela para peregrinarmos no horizonte da esperança. Ele publicou uma mensagem para o 9º Dia Mundial dos Pobres que será celebrado em 16 de novembro do corrente ano. “Tu és minha esperança” é o tema da mensagem. Escreve o Santo Padre: “Todas as formas de pobreza, sem excluir nenhuma, são um apelo a viver concretamente o Evangelho e a oferecer sinais eficazes de esperança”.

Para fomentar ainda mais em nós a virtude da esperança adentremos nos textos bíblicos da liturgia. A primeira leitura do Livro do Apocalipse de São João (cap.11 e 12) apresenta-nos, numa linguagem metafórica, uma representação dramática da história humana para dizer-nos que a vida não é uma simples aventura, é algo extremamente sério. Esta interpelação é muito atual. Hoje, de fato, a vida é excessivamente banalizada. Muitas vidas são ceifadas por motivações banais, sombrias e inconsequentes. Precisamos, como discípulos de Jesus Cristo, Despertar no ser humano a verdadeira fé. Só a fé em Deus poderá restituir valor e dignidade à vida.

Vamos ao texto. Assim ouvimos: “No céu aparece um sinal grandioso: uma mulher que gritava pelas dores do parto…” (Ap 12,1-2). Esta mulher é a imagem de todos aqueles que amam a vida, que sofrem pela vida, que defendem a vida; aqueles que acreditam na vida porque acreditam em Deus. Maria é o vértice, é a primeira a acreditar. Mas a história nos atesta que são muitos que se empenham nesta luta pela vida, que trabalham para salvar a dignidade humana. Quarta-feira passada, dia 13, nós fazíamos a memória de Santa Dulce dos Pobres. Ela nunca mediu esforços para resgatar a dignidade dos pobres e famintos. Clara de Assis não foi diferente, Francisco de Assis também não, porque, na verdade, este viés é parte da missão da Igreja.

Mas esta mulher é ameaçada: “No céu aparece outro sinal: um grande dragão, cor de fogo. Tinha sete cabeças e dez chifres e, sobre as cabeças, sete coroas. Com a cauda, varria a terça parte das estrelas do céu… O dragão parou diante da mulher, que estava para dar à luz, pronto para devorar o seu filho, logo que nascesse” (Ap 12,3-4). Qual é o êxito desta luta? A fé nos diz que vencerá a vida, vencerá a bondade e a justiça, porque Deus mesmo está empenhado nesta luta.

Um sinal e uma primícia desta vitória se chama Maria de Nazaré, a Senhora da Vitória. Pousemos o nosso olhar sobre ela, à partir do Evangelho de Lucas (1,39-56) que apresenta a narração da Visitação e o Magnificat. Através de sua vida se ilumina também a nossa vida e a da Igreja.

Primeiro, destacamos o seu espírito de desinstalação e de serviço. Ela deixa a sua casa, percorre regiões montanhosas e vai ao encontro de Isabel, sua prima que está para dar à luz um filho. Que encontro extraordinário! Que explosão de alegria identificamos neste encontro da parte de Maria, de Isabel e da criança que estava em seu ventre. Narra o texto que “quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo, Com um grito exclamou: bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,41-42). Como o mundo precisa destes sinais, de verdadeiros encontros que proporcionem alegria e transformem vidas. Entre nós, existem encontros assim que proporcionam verdadeiras alegrias?

Na sequência, Maria canta o Magnificat: é uma oração revolucionária no confronto com as nossas orações piegas, opacas e desencarnadas. “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador” (Lc 1,46-47). Por que Maria louva o Senhor? Porque olhou para a humildade de sua serva! Maria não se sente exaltada pelo chamado de Deus. Ela não permite que o orgulho e a vaidade ocupem o seu coração. Isto é sinal de espiritualidade profunda, que gera equilíbrio na jovem Maria de Nazaré.

Segue o canto: “Ele mostrou a força do seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1,51-53). Como podia uma humilde jovem de Israel exprimir com tanta segurança semelhante juízo sobre a história humana? Como podia Maria prever e sentir a certeza do triunfo dos humildes, dos pequenos, dos pobres, dos justos? Pela fé! Uma fé profunda que gera esperança! Maria é uma mulher de fé: não existe nela outro critério de juízo além da fé.

Maria crer em Deus e canta a esperança, mesmo se o presente parece tudo o contrário e tudo diverso. Por isso Maria é bendita entre todas as mulheres. E Jesus quis que fosse ela, a Mãe, a codividir primeiro a vida nova em plenitude. Por isso Maria subiu ao céu. A assunção de Maria torna-se para nós um convite a renovar a fé na vida eterna e a fé na fidelidade de Deus. Que o Senhor pleno de amor e de misericórdia nos ajude para que nunca nos falte a fé e que, a exemplo da Virgem Maria, a Senhora da Vitória, testemunhemos nossa adesão a Nosso Senhor Jesus Cristo com prontidão, constância e coragem.

Virgem da Vitória, Mãe da Igreja Sinodal, peregrina da esperança, toma-nos pela mão e conduz-se sempre ao teu Filho e nosso Salvador, Jesus Cristo!

 

Dom Edilson soares Nobre

Bispo Diocesano de Oeiras

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