O espírito sopra onde quer
Domingo passado celebrávamos a Festa da Ascensão do Senhor. Imaginemos como ficaram os Apóstolos naquele. Jesus foi elevado aos céus. Mas, antes, Ele ordenou: “ide, pregai o meu Evangelho a toda criatura e batizai em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28,19). Palavras decisivas e comando preciso. Mas aqueles pobres homens devem ter pensado: “Aonde iremos? Quem acreditará em nossas palavras?” Provavelmente, eles devem ter recordado as inúmeras palavras de Jesus: “Eu vos envio como ovelhas em meio a lobos… Vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. Sereis conduzidos à presença de governadores e de reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e diante dos gentios” (Mt 10,16ss). “Hão de surgir muitos falsos profetas, que enganarão muita gente. A iniquidade se espalhará tanto que o amor de muitos esfriará” (Mt 24,11-12). “Não vos deixarei órfãos, venho a vós” (Jo 14,18). “O Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26). Pensado nestas e em tantas outras possíveis palavras acenadas pelo Mestre Jesus, os Apóstolos se fecharam no Cenáculo à espera da realização da promessa.
Tiveram medo. Medo, porque entendiam que a proposta de Jesus era impossível empreender com a força humana. Medo, porque já tinham experimentado os próprios limites. De fato, recordavam de terem fugido do Horto, no Monte das Oliveiras e de ter deixado Jesus só. Medo, porque recordavam que um deles o havia traído…, e o primeiro deles, Pedro, havia renegado o mestre por três vezes.
Tiveram medo, mas era um medo que nascia da humildade, da consciência de serem pequenos! Tiveram medo: por isso rezavam e esperavam com Maria no Cenáculo.
Finalmente, tornaram-se humildes, começaram a crer verdadeiramente que sem Jesus e sem o seu Espírito, não podiam fazer nada.
Vem o Pentecostes! Improvisamente recebem o dom do Espírito de Jesus e ficam plenos de consolação, tornam-se corajosos, sentem-se destemidos para o anúncio da Verdade.
Pedro, que um dia tremeu diante da pergunta de uma serva, agora fala publicamente na praça em Jerusalém e grita a sua fé: “Jesus, aquele que vós o crucificastes, ressuscitou!” (At 2,23). Inicia a época do martírio, a época do “sangue” doado pela fé.
Mas, Pentecostes é um fato do passado ou é ainda possível? Um raciocínio simplíssimo: se a Igreja de Jesus deve levar a Boa Nova a todos os povos e em todos os tempos, evidentemente a promessa de Jesus permanece válida em todas as épocas. Disse Jesus a seus Apóstolos: “Como o Pai me enviou, assim eu vos envio” (Jo 20,21). Estas palavras de Jesus valem todos os dias, em qualquer situação em que vivermos. O Pentecostes, portanto, não é uma estação que passa, é uma condição de vida da Igreja. Somente o Espírito pode dar-nos luz para entendermos a entrega de Cristo e pode fazer-nos sentir a alegria de viver para Ele.
Porém, para que seja possível o Pentecostes, é necessário a espera no Cenáculo; é necessário que sejamos, de fato, uma comunidade na caridade, e abramos a alma e invoquemos o dom do Espírito Santo, reunindo-nos em torno a Maria, o modelo de humildade que crê e espera tudo do Senhor. É necessário, continuamente, retornarmos ao Cenáculo e repartirmos do Cenáculo.
O que esperamos do Espírito Santo? O que ele pode nos dar?
Disse Jesus aos Apóstolos: “Como o pai me enviou, assim também eu vos envio” (Jo 20,21). Nós somos as fronteiras do amor de Deus. As palavras de Jesus valem todos os dias, em qualquer das situações nas quais vivemos. “Eu te envio”: sentimo-nos, de fato, enviado por Cristo? Somente o Espírito Santo pode nos dar luz para entendermos a entrega de Cristo e pode fazer-nos sentir a alegria de viver para ele.
Por fim, diz Jesus: “recebam o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem não lhes perdoardes, não serão perdoados”. (Jo 20,22-23).
Jesus não quer dizer que a sua Igreja tem o poder quase caprichoso de perdoar quando e como quer. Até porque ela também está sob o juízo da Palavra. Jesus quer destacar o fato de que não é possível amá-lo sem amar a Igreja; não é possível crer nele, sem crer também na mediação da Igreja que ele quis por decisão soberana e livre decisão de amor. Jesus recorda contemporaneamente que sua Igreja é feita de pecadores em contínua conversão.
Que o Espírito Santo desperte em nós a consciência de que nossa Igreja é, ao mesmo tempo, mediadora e samaritana junto ao pecador e pecadora que trazem consigo a marca dos sofrimentos e dos pecados a serem vencidos, superados no cotidiano da vida.
O Espírito Santo sopra onde e como quer! Portanto, abramos o nosso coração e permitamos que Ele aja em cada um de nós, em nossa vida interior. “Vem, vem, vem! Vem Espírito Santo de amor! Vem a nós, traz à Igreja um novo vigor”.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras










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