A alegria alguns, não deve se justificada como merecimento de alguns, em detrimento de outros que não merecem. Isto é, não pode ser pensada e tratada como prêmio para quem é bom e merece tê-la e castigo para quem é ruim e não merece tê-la. Ela também não é sorte para quem alcança e azar para quem dela não se aproxima. Não é uma coisa que alguns tem direito e outros não.
Antes de mais nada, a alegria corresponde ao bem da justiça de Deus que chega a todos quantos a desejam, procuram e se deixa tocar por ela. Sabendo que ela é dom de Deus que vem como anúncio, mensagem e verdade do próprio Deus. Não é uma coisa que alguns tem direito e outros não. Bem por isso, Jesus é chamado de boa notícia que causa a alegria de quem o recebe.
O papa Francisco, no início do seu pontificado assim escreve, na Encíclica Alegria do Evangelho: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (parágrafo 1)
Infelizmente, num mundo onde tudo é materializado, quantificado e monetizado, a alegria acaba sendo mais um produto de compra e venda; como satisfação medida pelo valor que se paga. Sendo assim, a alegria é maior para quem paga mais; menor para quem paga menos e nenhuma para quem não tem poder de compra. Alegria, nesse caso, é confusamente compreendida e ofertada como prazer, ao alcance de poucos.
“O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado.” (Alegria do Evangelho, parágrafo 2)
O papa Francisco, na mesma encíclica faz uma grande convocação para a conversão, que cabe muito bem para esse tempo e para toda a vida:
“Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído. Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada. Este é o momento para dizer a Jesus Cristo: «Senhor, deixei-me enganar, de mil maneiras fugi do vosso amor, mas aqui estou novamente para renovar a minha aliança convosco. Preciso de Vós. Resgatai-me de novo, Senhor; aceitai-me mais uma vez nos vossos braços redentores». Como nos faz bem voltar para Ele, quando nos perdemos! Insisto uma vez mais: Deus nunca Se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos convidou a perdoar «setenta vezes sete» (Mt 18, 22) dá-nos o exemplo: Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus ombros. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que nada possa mais do que a sua vida que nos impele para diante!” ((Alegria do Evangelho, parágrafo 3)
Que nossa alegria continue sendo fruto da justiça de Deus!
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos
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