Segundo domingo da Páscoa
O perdão é o primeiro fruto da caridade
A Ressurreição de Jesus é todo o anúncio dos primeiros cristãos. Isto explica a serenidade da Igreja primitiva. A narração da aparição do Ressuscitado é precedida de uma apresentação do grupo apostólico. É a noite de Pascoa, mas para os apóstolos aínda não é Pascoa. Estes se encontram no Cenáculo onde a recordação de Jesus é ainda viva, mas triste. Os apóstolos ainda são homens bloqueados pelo medo e pela desilusão: não acreditaram na novidade da qual Deus é capaz. Imaginemos quantas vezes também nós vivemos assim a fé. Este Cenáculo triste é a imagem de tantos cristãos para os quais a Páscoa não entrou aínda na alma.
Jesus se apresenta improvisamente. Era uma visita inesperada e quase imprevista para eles. Diz Jesus: “A paz esteja convosco!” (Jo 20,19). Deus vem para dar a paz. Deus doa a paz! Hoje falamos tanto de paz. Não esqueçamos que a paz vem de Deus e que é fruto de um encontro com Deus. Os homens, sem Deus, não construirão a paz!
Jesus os faz ver as mãos e o lado. É uma experiência crua do realismo da Ressurreição e ao mesmo tempo um véu que acena para o custo do amor de Deus: os santos choravam olhando as feridas do crucificado sempre ensanguentadas de amor. “Mãos ensanguentadas de Jesus. Mãos feridas lá na cruz. Vem tocar em mim. Vem tocar em mim. Vem tocar em mim. Vem Senhor Jesus”.
E logo em seguida, eis as palavras do Ressuscitado: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21). Nós talvez sejamos levados a dizer: Como, Senhor! Nós em seu lugar? Você está exagerando, está arriscando! Nós somos pecadores! E qual é a resposta? “Eu vos envio. É a vossa hora, a hora da Igreja. Não temais! Eu venci o mundo!”.
E Jesus continua. “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 19,22-23). Aqui está a clara consciência de Cristo Ressuscitado: Ele sabia a quem entregava o Evangelho, sabia bem em que mãos colocava a obra de Deus: aos pecadores. Por isso disse: “perdoai os pecados”. Sabia que temos pecados, que duvidamos, que traímos, que nos envergonhamos dele. Sabia tudo, porque Deus conhece o que há no coração do homem. Então, nesta ordem (“perdoai”), é delineado o rosto da Igreja em caminho: a Igreja que na terra não será nunca uma comunidade de perfeitos, não será uma família só de santos, mas será um lugar de perdão: a casa da misericórdia, a casa do perdão. Esta passagem bíblica evidencia o quanto é importante em nossas vidas a experiência do Sacramento da Confissão. Confessar-se é buscar o prazer de experimentar a misericórdia de Deus.
Eis então o sinal que revela Cristo Ressuscitado presente entre nós: é o amor até o heroísmo do perdão. “Quem ama nasceu de Deus e conhece Deus” (I Jo 4,7). E o perdão é o primeiro fruto da caridade, é o sinal da presença de Deus-caridade dentro de nós e em meio a nós.
Entretanto, para aqueles que ainda não estão plenamente convencidos – simbolizados em Tomé – existe uma exortação para a fidelidade, para que a crença não seja embaçada pela dúvida, mas siga produzindo frutos de crescimento e alegria para todos os que, crescendo, tenham vida em Jesus. “Acreditaste, por que me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20,29). “Vem tocar em mim. Vem tocar em mim. Vem tocar em mim. Vem Senhor Jesus”.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras










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