“Para ver muita coisa é preciso despregar os olhos de si mesmo” (Friederich Niestzsche).
Uma das mais absurdas formas de alguém viver a própria existência, é fechando-se em si mesmo! Enquanto ficamos presos a nós mesmos, a única referência de verdade é o pequeno universo que nós criamos e que, se tornou o parâmetro de tudo e para tudo. Nele nós vivemos, nos movemos e somos. Assim, o que conta, o que vale, o que importa está medido pelo ego ensimesmado do indivíduo que olha, sempre, de cima para baixo. Coitado! Mal sabe este indivíduo que está projetando a própria infelicidade na capsula de isolamento do próprio individualismo. Este é o mal da autorreferencialidade que, o papa Francisco alerta e chama a atenção para o seu risco.
O mundo é maior do que as nossas visões cegas e nossas criações malucas. O antídoto para o fracasso do individualismo, infelizmente, só percebido muito tarde – Deus queira que não seja só no leito de morte – é a restauração do senso de convivência. Trata-se da abertura-encontro dos universos pessoais, numa dimensão de acolhida, respeito e amizade. Porque, a grandeza do Cosmo está na beleza da conexão entre os ‘pequenos mundos’ (micro-cosmos) que somos cada um de nós. As vezes custamos a perceber o quanto os outros são um dom de Deus para nós e, que, mesmo depois de recebermos tanto não sabemos enxergar e agradecer.
Acompanhe comigo a história a seguir…
Era uma vez uma Senhora que estava à espera de seu vôo, na sala de embarque de um grande aeroporto. Como ela deveria esperar por muitas horas, resolveu comprar um livro para matar o tempo. Comprou, também, um pacote de bolachas. Sentou-se numa poltrona, na sala VIP do aeroporto, para que pudesse descansar e ler em paz enquanto esperava o avião.
Ao seu lado sentou-se um homem. Quando ela pegou a primeira bolacha, o homem também pegou uma. Ela se sentiu indignada, mas não disse nada. Apenas penso : “Mas que cara de pau! É preciso ter descaramento; tirar-me a bolacha, do meu pacote, sem me pedir licença?”
Só que a coisa não ficou por ali: a cada bolacha que ela pegava, o homem também pegava uma. Aquilo a deixava tão indignada que não conseguia nem reagir.
Quando faltava apenas uma bolacha, pensou ela: “O que será que ele agora irá fazer?! Será que não tem um pingo de vergonha na cara e me vai tirar a última bolacha?”
Então o homem pegou na bolacha, na última bolacha, dividiu-a ao meio, deixando a outra metade para ela. Ah!!! Aquilo era demais !
A senhora estava furiosa! Então, e antes que perdesse a cabeça, pegou o seu livro e nas suas coisas e dirigiu-se ao local de embarque. Quando ela se sentou, confortavelmente, numa poltrona já no interior do avião, olhou para dentro da sua bolsa para pegar uma caneta, e, para sua surpresa, o pacote de bolachas estava lá… ainda intacto, fechadinho! Ficou quase sem respiração tal a vergonha que sentiu dela própria! Só então deu conta que quem estava errada era ela.
Ela, como era tão distraída, nem se deu conta que no aeroporto as bolachas que ela tinha comido não eram as bolachas dela…mas as dele. As suas continuavam guardadas, dentro da sua bolsa. O homem tinha dividido as bolachas dele, sem se sentir indignado, nervoso ou revoltado, enquanto ela tinha ficado muito transtornada, pensando que estava a dividir as suas bolachas com ele.
Teve vergonha dela própria, mas, nada mais poderia fazer: já não havia tempo para se explicar… nem para pedir desculpas!
Existem quatro coisas, na vida, que não se recuperam: a pedra, depois de atirada; a palavra, depois de proferida; a ocasião, depois de perdida e o tempo, depois de passado.
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos