Primeiro domingo da Quaresma
“Escolhe, pois, a vida”
Desde Quarta-feira de Cinzas começamos a celebrar o Tempo da Quaresma. É um tempo proposto pela Igreja para prepararmo-nos bem para a grande festa da Páscoa do Senhor. Nos são propostos para este período o jejum, a penitência, a oração e a prática da justiça. Fazendo esta experiência, certamente, estaremos preparados para celebrarmos o grande evento que marcou e que mudou o rumo da história da humanidade, ou seja, a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a vitória da vida sobre a morte.
É neste tempo quaresmal que a Igreja também nos propõe de realizemos a Campanha da Fraternidade. O tema deste ano é “Fraternidade e Fome”, e o lema é “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).
Escolhe a vida! Na promeira leitura (Gn 2,7-9;3,1-7) Adão e Eva deveriam ter feito esta escolha, mas se deixaram iludir pelas falsas promessas, pelas aparências e pela auto-suficiência. Preferiram a morte, no lugar da vida.
Também no Evangelho (Mt 4,1-11) Jesus devia fazer escolhas. Ele é tentado. A tentação é uma prova e faz parte da vida; é consequência da nossa liberdade. Viver, de fato, significa tomar decisões: é assim pra todos, também para Jesus. Jesus é tentado três vezes.
Primeira tentação: o demônio propõe transformar pedra em pão. A proposta que ele faz é de que Jesus realize a justiça num passe de mágica, utilizando Deus em benefício próprio. Ele quer um deus que seja garantia de prosperidade, um deus de palanque. Por que? Porque ele parte do pressuposto que uma vez assegurado o pão, tudo o mais é assegurado. É a mentalidade materialista segundo a qual tendo o estômago cheio, todo o homem está completamente saciado. Isto é um engano! A lógica de Jesus é diferente: “Está escrito: não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que vem da boca de Deus”. Para Jesus, a justiça do Reino se constrói mediante a partilha de tudo entre todos. É um engano. Aos pais, vale um lembrete: não basta encher a barriga e o bolso dos seus filhos, pensando que eles estarão saciados. Mais do que coisas, eles precisam ser preenchidos de valores.
Segunda tentação: “Se és o Filho de Deus! Lança-te daqui abaixo…” Que sentido tem esta proposta? O que se esconde por trás deste convite? É a tentação da pressa, da impaciência que ama resultados espetaculares, grandiosos, imediatos. A pressa, certamente, não é a estrada do bem. Nós gostaríamos que o mundo mudasse em poucos dias; que o nosso trabalho tivesse resultados imediatos; que os nossos scrifícios produzissem frutos imediatos. Porém, é necessário esperar. E a espera requer paciência, a paciência requer sacrifício, o sacrifício requer fé. Esta é a estrada de Deus: a estrada da pequena semente.
Terceira tentação. É a proposta do poder como primeiro valor da vida; um valor que para muitos precedem o lugar de Deus. É uma tentação absurda. Mas o orgulho humano, muitas vezes, se move no absurdo. É a última tentativa do demônio, é a arma mais sutil que ele possui. “Todas estas coisas eu te darei se, prostrando-te, me adorares”.
Que coisa não se é capaz de fazer por orgulho! A resposta de Jesus é imediata: “Vai-te, satanás, porque está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a Ele prestarás culto”.
Deus não é um patrão, é um Pai. Portanto, adorando a Deus não nos tornamos filhos, servidores do Evangelho.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras