Décimo Sétimo Domingo TC
Uma oração para se viver
A primeira leitura de hoje faz referência ao célebre episódio de Sodoma e de
Gomorra: duas cidades que se tornaram símbolos do vazio, da perversidade, da
imoralidade. Na verdade Sodoma e Gomorra são um retrato do contexto atual no qual
estamos inseridos hoje. O que diz a Bíblia através do diálogo-oração de Abraão? Antes
de tudo, a condenação ao pecado é claríssima. Condena o pecado não porque tenha
medo do prazer ou da alegria. A Bíblia condena o pecado em nome de uma precisa
interpretação da vida do homem. O homem foi criado para aprender a amar Deus e o
próximo, mas o amor é dom de si, portanto o amor é também sacrifício, o amor é
liberdade conquistada, o amor é presença de Deus, pois cada amor verdadeiro torna-se
semelhante a Deus que é amor. Mas hoje o homem tornou-se uma opção contrária: hoje
o amor tornou-se instinto, libertinagem, narcisismo, sensações sem referência à
profundidade interior do homem. A Bíblia condena estes desvios e os chama “pecado”.
Mas, então existe esperança? A Bíblia tenazmente defende e propõe a esperança. Abrão
surge como um sinal de esperança para reconstruir na vida daquele povo os conceitos
que lhes restituam a dignidade de povo de Deus.
O Evangelho nos apresenta Cristo ensinando-nos a construir uma história nova.
Um novo modo de sentir, um novo modo de falar, um novo modo de avaliar, um novo
modo de viver.
“Pai”! Com esta expressão Jesus nos convida a abandonarmos as visões infantis
de Deus: Deus-severo, Deus-vingativo, Deus-distante, Deus-opressor, são todas leituras
erradas da divindade. O seu verdadeiro nome é “Pai”. É um nome que evoca confiança,
abandono, segurança, otimismo. Eu posso dizer: Deus, tu és meu Pai! Assim, todo o
empenho da vida está em usar a liberdade para viver verdadeiramente como filho.
“Santificado seja o teu nome, venha o teu Reino, seja feita a tua vontade”. A
verdadeira oração, a mais alta oração não pede a Deus para escutar o homem, mas pede
ao homem a graça de escutar Deus. Naquela oração Jesus nos ensinou a dizer: “Pai, que
tu sejas entendido! Pai, que os homens não te impeçam de dar a alegria, de dar a vida!
Pai, que ninguém impeça o teu amor e o mundo caminhe na direção da salvação!”.
A segunda parte da oração nos faz voltar o olhar para as necessidades do
homem. “Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos”. Bem sabemos que a vida é uma
viagem, uma peregrinação e, portanto, não precisamos acumular tanto. Basta que
tenhamos o necessário para vivermos dignamente como filhos de Deus. “Perdoa-nos os
nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores”. Também o
perdão é o pão quotidiano. O homem é fraco e, portanto é sempre carente do perdão.
Deus sabe. Porém Jesus nos recorda que a medida do perdão Deus a coloca em nossas
mãos: “Perdoa como nós perdoamos”.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras