XXXIII Domingo do Tempo Comum
Como devemos esperar Jesus? Jesus responde com uma parábola: “Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens… Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar as contas com os empregados” (Mt 25,14-19). Observemos uma particularidade: o patrão entrega aos servos os “seus bens”, ou seja, um capital enorme e de incalculável valor. A imagem dos talentos destaca a largueza dos dons de Deus: cada um de nós, de fato, é um investimento de amor; cada um de nós é preciosíssimo aos olhos de Deus. Todos nós somos um dom de Deus. Segundo o ensinamento de Jesus cada pessoa é um dom, mesmo que seja doente ou aleijada ou marcada por qualquer anomalia. Insisto em dizer que cada um é precioso aos olhos de Deus.
Em consequência disto, tudo o que somos e tudo o que temos, devemos colocar a serviço dos outros: devemos fazê-los tornar-se caridade.
Neste sentido é extraordinariamente verdadeira a afirmação: “diante de Deus, levaremos somente o que conseguimos dar e não o que conseguimos acumular”. O que nós acumulamos o colocamos no banco do egoísmo e, portanto, o perderemos. Aquilo que doamos o colocamos no banco do amor… E será nosso para sempre. Por este motivo Jesus louva os dois homens que souberam fazer bom uso dos talentos que receberam e que os fizeram frutificar: estes são os santos; estes são aqueles que lavaram as suas vestes no sangue de Cristo, ou seja, na lógica divina do amor e do dom total de si.
Não esqueçamos que se temos a saúde, esta não é para nós, mas para quem não a tem. Quem guarda para si os dons que Deus lhe deu, este provará o desgosto e a angústua do egoísmo; se somos inteligentes, a inteligência não é para nós, mas para quem não a tem; se a usamos exclusivamente para nós, nos precipitaremos no orgulho e provaremos a inquietude e a amargura, que são “sabores” tipicamente infernais. Se existe em nós a bondade, a delicadeza e a sensibilidade, lembremos que são dons para se investir e fazer o bem aos outros, ao contrário, estaremos “fora da linha” e, consequentemente, impossibilitados de sermos felizes.
Jesus acrescenta na última cena da parábola a cena do homem que enterrou, por medo, o seu talento. Este homem pertence àquela categoria de pessoas que não confiam em Deus, se lamentam de tudo, que protestam por causa do escuro, mas não acendem a pequena luz que poderia fazer a diferença. Aqui valem as palavras de Santo Agostinho: “Aquele que tem a caridade no coração, sempre tem alguma coisa a doar aos outros”. Somos conscientes disso? Interpretemos este “doar” não apenas do que é material, mas também no sentido da entrega: Doar-se, entregar-se! Qual é a medida da nossa doação? Em relação à Igreja, qual é a medida do nosso dízimo? Em relação às pastorais, serviços e movimentos, qual é a mediada da nossa doação? Em relação ao próximo, sobretudo os mais pobres que vivem na mendicância e sem perspectivas de vida, qual é a medida da nossa partilha? Lembremo-nos da oração de São Francisco: “E dando que se recebe e é morrendo que se vive para a vida eterna”.
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo da Diocese de Oeiras