XVI Domingo do Tempo Comum
As parábolas da liturgia de hoje são propícias para os apressados, para os impacientes. Jesus claramente declara: Deus não ama a intransigência orgulhosa, mas a paciência humilde e confiante.
Disse Jesus: “O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou a boa semente no campo… Veio o inimigo e semeou o joio no meio do trigo” (Mt 13, 24-25). A afirmação de Jesus é clara: no Reino de Deus, aqui sobre a terra, crescem juntos o trigo e o joio; e Deus não intervém apressadamente e nervosamente para eliminar o joio, mas espera com paciência de Pai e com confiança inesgotável de Mãe.
Nós, porém, não gostamos desta situação porque somos levados a ser duros no confronto com os pecadores: evidentemente, quando os pecadores são “os outros”! Mas Jesus com divina clareza nos recorda a situação do Reino de Deus aqui sobre a terra: o grão cresce junto com o joio, o bem está junto do mal, os bons vivem lado a lado com os maus. Procuremos ter sempre presente esta situação e individualizemos algumas precisas consequências para a nossa vida.
A primeira é esta: a mistura de trigo e joio a encontraremos sempre em todos os níveis. A encontraremos na família, no grupo, na comunidade e, sobretudo, no nosso coração. Não podemos e não devemos imaginar uma situação diversa, ao contrário arriscamos de nos tornarmos intolerantes e incapazes de viver na nossa história: a paciência, que não é abdicação, mas intensidade de amor é a única atitude que permite manter juntas a Verdade e a Caridade.
Eis a segunda consequência: o mal não nos deve escandalizar, mas nos deve empenhar partindo do “campo” do nosso coração e da nossa vida pessoal.
“Queres que andemos a arrancar o joio?”. Todos conhecemos bem a resposta do patrão do campo (que é Deus): “Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo” (Mt 13, 28-29). Devemos humildemente reconhecer que a proposta dos servos é uma tentação contínua dos cristãos não ainda plenamente permeados pelo Evangelho. O desejo de erradicar o joio, de fato, nasce de uma forma exagerada de medo do mal, que Deus certamente não conhece. Na verdade, no curso da história, nós cristãos muitas vezes temos tentado eliminar o joio, ao invés de trabalhar e sofrer para “convertê-lo”; temos combatido pecado e pecador, enquanto o verdadeiro crente deve amar apaixonadamente o pecador e combater somente o pecado.
O joio pode tornar-se trigo. O bom ladrão que foi crucificado ao lado de Deus é uma espécie de joio transformado em trigo. São Paulo era um feroz perseguidor e tornou-se um apóstolo incansável. Santo Agostinho era um autêntico errante de pensamento e de coração: tornou-se um cantor entusiasmado e enamorado sincero de Deus chegando a exclamar: “Tarde te amei, Beleza assim antiga e assim nova!”
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras