XXII Domingo do Tempo Comum
Cristo vence a morte
Procuremos contextualizar o Evangelho de hoje e deixemo-nos envolver no incidente de Pedro. Pedro havia apenas exclamado, conforme o Evangelho do vigésimo primeiro domingo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” (Mt 16,16). Estas palavras são uma maravilhosa profissão de fé. Mas a fé não é somente um ato de inteligência: a fé é um caminho de vida no seguimento do Senhor sobre uma estrada humanamente imprevisível. Não basta dizer “eu creio em ti” para ser um verdadeiro crente. “Eu creio em ti” pode ser somente o jogo de palavras. Por isso devemos sempre recordar que não se salva quem diz “Senhor! Senhor!, mas quem faz a vontade do Pai (Mt 7,21).
Jesus é explícito: “Começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da lei e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. (Mt 16,21). Esta é a estrada de Deus. Este é o modo escolhido por Deus para entrar na história e salvá-la.
“Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!” (Mt 16,22). Pedro não entende a via de Deus e teme: teme que a via da Cruz possa ser uma derrota e não uma vitória de Deus. É uma tentação que retorna continuamente na comunidade dos discípulos a tal ponto que Paulo, poucos anos depois, será obrigado a escrever: “Já vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há muitos que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso. Só pensam nas coisas terrenas” (Fp 3,18-19).
Todos nós somos tentados a este comportamento. Tentados de pedir a Deus de colocar-se contra a Sua vontade e de seguir a nossa. Muitas vezes, de fato, a nossa fé é assim fraca a ponto de não ser um caminho em direção ao Senhor, mas sim uma obstinada resistência com a absurda pretensão que seja Deus a fazer o nosso insipiente caminho e o nosso louco querer.
Como é diferente o comportamento de Maria, a mulher do SIM sem reticências e sem descontos. Ela, de fato, dianto do anúncio do Anjo se entrega com a docilidade de uma criança e exclama com total abandono: “Eis-me, sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a sua Palavra” (Lc 1,38).
Voltemos ao Evangelho deste domingo: “Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: Vai para longe satanás!” (Mt 16,23). Por que Jesus foi tão duro com Pedro? O texto é claro. Pedro, contestando a via de Jesus, havia pretendido fazer-se o mestre do Mestre. Um comportamento absurdo! Jesus, então, chama a atenção de Pedro de colocar-se no lugar do discípulo: com humildade, com docilidade, com confiança e com obediência serena.
“Vai para longe satanás!”. Ou seja: se tu pretendes colocar-te sobre Deus, tu te tornas satanás. Não Pedro! Não faça assim! Porque um só é o Mestre e ninguém deve ter a pretenção de colocar-se sobre Ele. A missão a ti confiada não te dá o direito de colocar-te acima do Mestre.
É essencial considerarmos o ensinamento do Mestre: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perde-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontra-la” (Mt 16,23-25).
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras