“Buscai o amor e aspirai aos dons do Espírito Santo” (1Cor 14,1)
Caríssimos irmãos e irmãs!
Oportunamente, estamos celebrando a Festa de Pentecostes, a tradicional Festa do Divino. Conosco se unem os cristãos do mundo inteiro para celebrar este dia de reavivamento da fé. A liturgia de hoje nos remete à origem de nossa Igreja e nos ajuda a perceber quão extraordinariamente o Espírito Santo age nesta Igreja e inflama-a com o dom de seu amor e com fogo abrasador a impulsiona para a missão.
“Buscai o amor e aspirai aos dons do Espírito Santo” (1Cor 14,1). Com este tema, temos procurado refletir que o amor é essencial às nossas vidas, e que o resto é secundário. Felizes daqueles que, impulsionados pelo amor, abrem o coração para Deus e deixam-se imbuir pelos dons do seu Espírito: o dom da sabedoria, da inteligência, do conselho, da fortaleza, de ciência, da piedade e do temor de Deus. São estes dons que nos ajudam a superar as nossas fragilidades humanas e vivermos uma vida em conformidade com o Cristo nosso Bom Mestre e Senhor.
É o Espírito Santo que transforma nossas vidas, caso não travemos os nossos corações e deixemo-nos moldar por Ele. Imaginemos os Apóstolos naquele dia da Ascensão de Jesus. Antes que Ele desaparecesse dos seus olhos, disse-lhes: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo…” (Mt 28,18-19). Palavras decisivas e comando preciso. Mas aqueles pobres homens devem ter pensado: “E onde vamos? Quem acreditará em nossas palavras?
Certamente, eles devem ter recordado as palavras de Jesus: Não vos deixarei órfãos. Vos mandarei um Consolador que permanecerá convosco para sempre…” (Jo 14,18). E ainda: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Pensado nestas palavras, os Apóstolos se fecharam no cenáculo à espera da realização da promessa.
Tiveram medo. Medo, porque já tinham experimentado os próprios limites. De fato, recordavam de ter fugido do Horto das Oliveiras e de ter deixado Jesus só. Medo, porque recordavam que um deles o havia traído. E o primeiro deles, Pedro, havia renegado o Mestre por três vezes. Tinham medo, por isso oravam no Cenáculo.
Finalmente, tornaram-se humildes, começaram a crer verdadeiramente que sem Jesus e sem o seu Espírito, não podiam fazer nada. Salientamos que, junto aos Apóstolos, no Cenáculo, encontrava-se também Maria Santíssima, a Mãe de Jesus. Uma presença feminina marcante e consoladora que, certamente, ajudava a superar o medo e garantir a serenidade entre aqueles que viviam a expectativa de Pentecostes.
Vem o Pentecostes! “De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2,2-4). Improvisadamente receberam o dom do Espírito de Jesus e ficaram plenos de consolação, tornaram-se corajosos, sentiram-se destemidos para o anúncio da Verdade, causando espanto e admiração: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? Nós que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus na nossa própria língua!” (At 2,7-11).
Pedro, que um dia tremeu diante da pergunta de uma serva, agora fala publicamente na praça em Jerusalém e grita a sua fé: “Jesus, que vós o crucificastes, ressuscitou! ” (At 2,23). Assim, vão sendo narrados os primeiros capítulos da vida de nossa Igreja que age pelo impulso do Espírito Santo e garante que o nome e os ensinamentos de nosso Senhor Jesus Cristo se perpetuem na vida e no coração de cada ser humano, como no interpela o Papa Francisco na última mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais: “Para que possas contar e fixar na memória (Ex 10,2). A vida faz-se história”
Mas, Pentecostes é um fato do passado ou é ainda possível? Um raciocínio simplíssimo: se a Igreja de Jesus deve levar a Boa Nova a todos os povos e em todos os tempos, evidentemente a promessa de Jesus permanece válida em todas as épocas: “Estou convosco, todos os dias, até o fim dos tempos”.
No Evangelho de hoje Jesus diz a seus Apóstolos: “Como o Pai me enviou, assim eu vos envio” (Jo 20,21). As palavras de Jesus valem todos os dias, em qualquer uma das situações em que vivermos. Somente o Espírito pode dar-nos a luz para entendermos a entrega de Cristo e pode fazer-nos sentir a alegria de viver para Ele. Por isso Jesus segue com estas palavras: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. (Jo 20,22-23). Naturalmente, com estas palavras Jesus não quer dizer que a sua Igreja tem o poder quase caprichoso de perdoar quando e como quer. Também a Igreja está sob o juízo da Palavra e ela (a Igreja) sabe bem disso. Ele recorda, na verdade que a sua Igreja, contemporaneamente, é feita de pecadores em contínua conversão.
Feliz dia de Pentecostes!
Dom Edilson Soares Nobre
Bispo Diocesano de Oeiras