Qual é a dor de uma paixão? Camões diria: “Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer…”
Você, o que diria? (…)
Enquanto você formula a sua resposta vamos perguntar a Jesus, sabendo que a paixão de Jesus não é, somente o sentimento do coração, mas, o projeto do seu coração que é maximizado pela Cruz. A Paixão de Jesus, então, põe a descoberto um amor que se permite sofrer por causa do amado. Neste caso, a paixão é sofrimento por causa do amor que não suporta ficar ‘preso’ no coração, de modo intimista, como sentimento abrasador. Pelo contrário, manifesta-se como entrega de si mesmo; lança-se para fora, numa perspectiva de encontro como outro; não evita correr risco e, se preciso for, até morrer.
Encontramos, no Evangelho de Marcos, três anúncios da paixão, feitos aos discípulos, pelo próprio Jesus. O interessante é que estes anúncios (primeiro Mc 8,31-33; segundo Mc 9,30-32 e terceiro Mc 10,32-37) seguidos da profissão de Fé de Pedro, são emoldurados, no começo e no final, por duas narrativas sobre a cura de cegos (o primeiro cego de Betsaida – não tem nome [Mc 8,22-26] e o cego Bartimeu, filho de Timeu – tem nome e endereço [Mc 10,46-52]. Por ai, já dá para perceber a intenção do Autor Sagrado, de mostrar o clima de incompreensão e resistência em relação a Jesus e o projeto do seu coração. Ao mesmo tempo, vemos o Senhor que, abre os olhos aos cegos e precisa abrir os olhos e os corações dos discípulos.
O Primeiro Anúncio da Paixão (Mc 8,31-33). “Em seguida, Jesus começou a ensinar os discípulos, dizendo: ‘O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar depois de três dias.’ E Jesus dizia isso abertamente. Então Pedro levou Jesus para um lado e começou a repreendê-lo. Jesus virou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: ‘Fique longe de mim, satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens’.” A reação de Pedro é sintomática. Revela sua incompreensão e dificuldade de associar o título de Cristo com paixão e morte. Ele é um dos cegos ‘sem nome’ e ‘assume’ o papel de satanás enquanto tenta desviar Jesus da obediência ao Pai.
O Segundo Anúncio da Paixão (Mc 9,30-32). “Partindo daí Jesus e seus discípulos atravessavam a Galiléia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde ele estava, porque estava ensinando seus discípulos. E dizia-lhes: ‘O Filho do Homem vai ser entregue na mão dos homens, e eles o matarão. Mas, quando estiver morto, depois de três dias ele ressuscitará.’ Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus estava dizendo, e tinham medo de fazer perguntas.” Os discípulos não compreendem e se calam por medo. Mas, no caminho discutem quem é o maior, em outras palavras, quem vai ficar no lugar de Jesus. O problema é que encontram dificuldade em compartilhar do destino do Mestre. Estão presos às grandezas deste mundo
O terceiro Anúncio da Paixão (Mc 10,32-37). “Jesus e os discípulos estavam a caminho, subindo para Jerusalém. Jesus ia na frente. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Jesus chamou de novo os Doze à parte e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele: ‘Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. Vão caçoar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo. E depois de três dias ele ressuscitará’. Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos te pedir.’ Jesus perguntou: ‘O que vocês querem que eu lhes conceda?’ Eles responderam: ‘Quando estiveres na glória, deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda’.” Não há comentários dos discípulos a este mas, Tiago e João pedem os dois primeiros lugares. A postura deles é, certamente, por uma concepção política do messianismo de Jesus e, querem tirar proveito disso. Jesus, imediatamente, lhes dá instruções sobre o verdadeiro poder: o espírito de Serviço.
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos
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