A busca do deserto

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O caminho do deserto é uma grande descoberta da fé pois o deserto é figura da austeridade do seguimento de Jesus Cristo.

Busquemos o deserto!

Eis o que diz o Senhor: “Agora, sou eu que vou seduzi-la, vou levá-la ao deserto e conquistar seu coração. Aí eu lhe devolverei as videiras, e o Vale da Desgraça se transformará em Porta da Esperança. Aí ela vai me responder como nos dias de sua mocidade, como no dia em que saiu da terra do Egito. Nesse dia – oráculo de Javé – você me chamará ‘Meu marido’ e não mais ‘Meu ídolo’. Vou tirar de seus lábios o nome dos ídolos, e esses nomes nunca mais serão lembrados. Nesse dia, farei em favor deles uma aliança com as feras, com as aves do céu e com os répteis da terra. Eliminarei da terra o arco, a espada e a guerra; e, então, vou fazê-los dormir em segurança. Eu me casarei com você para sempre, me casarei com você na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu me casarei com você na fidelidade e você conhecerá Javé” (Os 2,16-22).

Nossa realidade é, por si mesma, dispersiva e esvaziadora, exteriorizada e exteriorizante. Não é dada a noções de intimidade mas, voltada ao intimismo que sequestra nossa subjetividade em esconderijos cavernosos de autodefesa e fuga. Por isso, não fazemos o caminho do interior mas, fugimos para as cápsulas de proteção que instalamos em nossas superfícies; ai nos fechamos e nos isolamos na reclusão de nossas fendas, como abismo de boca estreita.

Consequência nefasta deste hermetismo é o individualismo cego, o egoimo narcisista, a autossuficiência mórbida e da solidão nervosa.

Vivemos como que, seduzidos idolatricamente pelo mundo, suas preferências e hedonismos. Respiramos imediatismos e insatisfações e nem nos damos conta de que estamos sendo sugados para o distanciamento dos outros, de nós mesmos e de Deus.

Deus toma a iniciativa de aproximar-se de nosso abismo labirintoso. Ele entra em nosso hoje, em nosso agora e se propõe a ‘brigar’ pelo nosso amor. Quer seduzir-nos, já que fomos enfeitiçados pelo mundo e estamos enredados nas tramas do ensimesmamento. A sedução de Deus é um chacoalhão necessário para fazer-nos sair do feitiço e do transe; é fogo-contra-fogo. Se não nos seduz, não obtém nossa atenção seduzida pelo abismo da impostação; não desvidrifica nossos olhos; não amolece nosso coração; não solta os nossos lábios; não destampa nossos ouvidos; não toca os nossos desejos; não liberta os nossos sentimentos, não aguça nossas sensações; não otimiza o poder do toque; não nos faz suscetíveis à brisa suave; não nos faz voltar da morte…

A sedução sem o deserto é, sempre, um abismo, mesmo se tratando de Deus. Por isso Deus seduz e leva para o deserto… é no deserto que Ele exerce conquistas. Porque o deserto não permite disfarces e escamoteamentos. O deserto pede a inteireza do ser: mente, corpo, alma, coração. O deserto põe abaixo o sistema defensivo, a pose e a panca. Só a verdade sobrevive no deserto.

O amor é a primeira grande manifestação de Deus no deserto porque é ai onde o coração revela sua força e simplicidade: “vou levá-la ao deserto e conquistar seu coração” No deserto faz-se o caminho de volta de toda forma de distanciamento porque, a necessidade de enfrentar o exterior inóspito leva ao destravamento das fechaduras internas, promovendo o alargamento da própria tenda e, por conseguinte, a criação de novas aberturas que se concretiza como aliança perpétua. Nesse sentido o deserto é redentor porque, nele, a gratidão floresce e o sonho volta a ser semente e broto de esperança.

Uma aliança fundada no amor universaliza o amor e consagra, toda relação de proximidade, como sinal efetivo de intimidade, comunhão, presença e fidelidade. Ai acontece a plenitude do deserto.

Fica claro, portanto, que o caminho do deserto é uma incessante busca do amor, na força do silêncio que, começa dentro de nós mesmos e que se consolida como conversão para uma aliança com Deus e seus infindáveis transbordamentos.

 

Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos

Foto: Google

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