O Bom Pastor e o cheiro das ovelhas

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Quem recebe a missão de cuidar, precisa cuidar mas, cuidando-se. Exatamente isso: cuidar cuidando-se. Não existe nada mais nocivo para a missão de quem cuida senão a resistência a cuidar-se ou deixar-se cuidar. Porque não se trata, apenas, de uma tarefa, de uma atividade ou de uma ação isolada. Cuidar não é, apenas, um ato, mas uma atitude, uma postura que envolve a vida toda de uma pessoa e toda a sua vida. Cuidar é amar. Sendo assim, quem ama precisa, necessariamente, amar-se e deixar-se amar.

A figura do Pastor, na Bíblia, é a melhor imagem do cuidado e do amor. A verdade sobre o pastor, encontra-se, antes de tudo, na identidade como pastor e, por conseguinte, na identificação com as ovelhas.

O papa Francisco, numa de suas homilias, falando aos sacerdotes, no desempenho de sua missão, diz que o verdadeiro pastor é aquele que, tomando consciência de quem ele é, trás em si, o cheiro das ovelhas. Mas, o testemunho do bom pastor provém da experiência pessoal de ter sido apascentado pelo único e supremo pastor, Jesus.

A figura do bom pastor não está reduzida ao universo religioso Pelo contrário, está voltada para o universo humano, em todas as esferas de cuidado.

Os profetas do Antigo Testamento não economizam palavras para chamar a atenção dos reis que, ao invés de apascentar o povo com a justiça e o direito, conforme a unção recebida, desviam a finalidade de sua missão, abandonando o povo à sua própria sorte.

Numa de suas profecias, assim se expressa Jeremias: “Assim diz Javé, o Deus de Israel, contra os pastores encarregados de cuidar do meu povo: Vocês espalharam e expulsaram minhas ovelhas e não se preocuparam com elas. Pois agora sou eu que vou pedir contas a vocês pelo mal que praticaram – oráculo de Javé. Eu mesmo vou reunir o que sobrou das minhas ovelhas de todas as regiões para onde eu as tinha expulsado. Vou trazê-las de volta para as suas pastagens, para que cresçam e se multipliquem. Vou dar-lhes pastores que cuidem delas, e elas não terão mais medo ou susto, nem se perderão – oráculo de Javé. Vejam que vão chegar dias – oráculo de Javé – em que eu farei brotar para Davi um broto justo. Ele reinará como verdadeiro rei e será sábio, pondo em prática o direito e a justiça no país. Em seus dias, Judá estará a salvo e Israel viverá em paz; e a ele darão o nome de ‘Javé, nossa justiça’” (Jeremias 23,1-8).

Jesus é a realização da profecia do ‘broto justo’. Nele a figura do bom pastor encontra sua verdadeira imagem, coforme escreve São João: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor a quem pertencem, e as ovelhas não são suas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo. Então o lobo ataca e dispersa as ovelhas. O mercenário foge porque trabalha só por dinheiro, e não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor: conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem…” (Jo 10,11-18)

Em 1979 o cantor e compositor paraíbano José Ramalho Neto, mais conhecido como Zé Ramalho, lançou o LP A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu, pela EPIC/CBS, em que a música “Admirável Gado Novo” destacou-se como sucesso, sobretudo, pela crítica que sua letra fazia à ditadura militar e ao conformismo da maior parte do povo, comparado ao gado: “povo marcado, povo feliz”.

Infelizmente constatamos, ainda hoje, o povo, vivendo como gado marcado, mais dado a reações (momentâneas) do que a ações (permanentes). Mas, por que o povo vive como gado? Porque é tratado como gado. Mas, para se tornarem ovelhas precisam ser tratadas como ovelhas. Mas, afinal, onde estão os “pastores” do povo que foram instituídos na missão de cuidar e amar? Estão distraídos cuidando de si mesmo. Tornaram-se mercenários.

Não consintamos, mais, que mercenários continuem nos fazendo de gado. Sejamos ovelhas! Sejamos rebanho! Se não trazem o cheiro do povo não são mais legítimos sobre nós!

 

Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos

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