A paternidade é a cura da filiação

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O ditado popular: “filho de peixe, peixinho é”, geralmente, é usado para indicar a verossimilhança entre pai e filho quanto ao gênio, comportamento, traços filhos etc. Mas, vamos considerar um outro ponto sugerido pelo ditado que é, o vínculo de gênesis, ou seja, o pai está para o filho assim como o filho está para o pai.

Existe uma necessidade existencial recíproca e vinculante que une e liga o pai ao filho e o filho ao pai. Mas, na prática, isso nem sempre é verdade e possível.

É dramática, trágica e desumana a condição de filhos sem referência de pai no sentido estrito da palavra, enquanto designa laços de afinidade biológica, genética, física, emocional, afetiva, sentimental…

Não há dúvidas de que, a paternidade adotiva instala uma reciprocidade com vínculos emocionais, afetivos, sentimentais, históricos… que passam significar muito na vida do adotado, mas, infelizmente, não tudo. Porque, a singularidade da paternidade “filho de peixe, peixinho é” continua em aberto.

Quando um adotado fala em conhecer o “pai biológico”, não o faz, simplesmente, por curiosidade míope ou por afronta ou para desmerecer o pai adotivo. Não se trata disso. O fato é que o nosso ser mais profundo pede isso. Ontologicamente uma pessoa está incompleta sem o “encontro” com o seu genitor. Sua gênese pede; é um “pedido” e uma “necessidade” da existência que se encontra abafada por um silêncio obsequioso, imposto pelo desconhecimento. Mesmo quando existe liberdade total de tratar, sobre isso, na família.

O medo de perder o filho pode levar a família adotiva a negar e obstruir o caminho do encontro e, não colaborar com a libertação e a cura do adotivo que não quer “ficar” com o genitor. No fundo ele quer, apenas, “se ver” para a sua sanidade existencial.

Na Sagrada Escritura, alguns textos mostram o caminho da “sanidade existencial” expressa em Jesus. Ele tem um pai adotivo: José. Ele é o modelo do filho adotivo: vive, em paz, no ‘escondimento’ de Nazaré, junto com os seus, dos 12 aos 30 anos de idade.

Por duas vezes, são Lucas fala desta sanidade de Jesus, junto à família. Primeiro, recém-nascido, por ocasião da Apresentação no Templo: “Quando acabaram de cumprir todas as coisas, conforme a Lei do Senhor, voltaram para Nazaré, sua cidade, que ficava na Galiléia. O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele” (Lc 1,39-40). Segundo, aos doze anos, quando estava no Templo com os doutores, escutando e fazendo perguntas: “Jesus respondeu: ‘Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?’ Mas eles não compreenderam o que o menino acabava de lhes dizer. Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu obediente a eles. E sua mãe conservava no coração todas essas coisas. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 1,49-52).

A vida, em Nazaré, não bloqueou Jesus. Pelo contrário, em Nazaré ele cresceu e se tornou o modelo de quem se vê no Pai! São João nos apresenta isso num diálogo que Jesus tem com Tomé e Filipe: “Jesus respondeu: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai. Desde agora vocês o conhecem e já o viram.’ Filipe disse a Jesus: ‘Senhor, mostra-nos o Pai e isso basta para nós.’ Jesus respondeu: ‘Faz tanto tempo que estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece, Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que você diz: ‘Mostra-nos o Pai’?   Você não acredita que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que digo a vocês, não as digo por mim mesmo, mas o Pai que permanece em mim, ele é que realiza suas obras. Acreditem em mim: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditem nisso, ao menos por causa destas obras’” (Jo 14,6-11).

Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos

Foto: Gogle

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